O medo do desconhecido é companheiro constante, apesar de hábitos e crenças, o pequeno espaço que damos às escolhas conscientes torna-se frágil e apertado. Em todos os momentos, a sensação de vulnerabilidade traz, em si, ansiedade guardada.
Parece que esses guardados de insegurança surgem do chão e comungam o dia, junto do nascer do sol. Aí, pois, acredito, esteja a beleza da vida: descobrir a força, na fraqueza! Natureza humana deixaria de ser, se tivesse só certezas.
O medo de morrer, inclusive, dá mais intensidade à jornada. Mesmo que digam haver entrega total à experiência da passagem dessa “pra melhor”, podemos apostar que o desconhecido caminho de ida apavora tantos quantos sucumbem ao assunto.
É de finitude que a vivência, ao menos essa, é composta. Sem ela, determinação, foco, metas nem teriam tanta urgência assim. Novas experiências, novas relações e novos momentos pareceriam velhos conhecidos. Isso posto, sem tocar em outros campos sociais, como a religião e a política.
Ambas se valem dos mecanismos para lidarmos com as incertezas da vida e com o medo da partida. Por óbvio, porque oferecem estruturas prontas para compreendermos o desconhecido e nos oferecem respostas que, de outro modo, permaneceriam “sem solução”.
Diante do que dizem as filosofias, o segredo está no “conhece-te a ti mesmo”. É aquela estrada mal acabada e bem pisada do autodiálogo que poucos têm.
Quando pensamos, pensamos muito e com tantas vozes e questões que nem percebemos se há início e fim. É sobre conhecer cada voz, de onde e por qual motivo vem. Eis a delícia da vulnerabilidade.
Gostamos de moldar nossa psique com muitos medos, evitando, em cada curva da estrada, o desconhecido. Mal lembramos que é na volta para casa que evoluímos e enfrentamos nossas questões existenciais.
No modo sobrevivência, habitamos a hostilidade com pura raiva e amargor. Foi a maneira que herdamos da ancestralidade a segurança e o apoio em grupo, para suplantarmos desafios naturais.
Aquela herança deposita uma carga biológica em nosso comportamento, que evitamos enxergar. Mesmo assim, ela está lá, desde que o mundo é mundo.
Vêm incertezas, vão certezas, cada um se familiariza com o que é capaz de perceber. O conforto reduz demasiadamente esse espectro, uma vez que os riscos demandam desconforto e impulso ao movimento. Ninguém amplia a consciência deitado no sofá de casa.
Outro quesito âncora sobre dar sentido à morte é buscar significados à vida. A busca por respostas nos faz bater às portas do propósito. Quais valores morais que satisfazem plenamente nossas decisões éticas?
Talvez, mas só talvez, o conhecimento agregado e o respeito aos diferentes possam melhor assessorar nossa obstinação rumo à boa morte. Nenhuma cultura, por qualquer perplexidade e estranheza que nos cause, eleva-se a outra.
Infeliz se refaz, todo dia, quem deixa a voz da comparação falar e cala a voz da compaixão, seja em relação ao outro ou a sim.
Nisso, quase esquecemos que o que mais nos torna vulneráveis é o que mais nos faz humanos, no sentido da evolução e da nossa máxima expressão. Quem dera descobrirmos isso o quanto antes, para nos expormos sempre mais e ser um com a dor do “amar a si”.
Esse amor por si, que nos foi negado saber, carrega a chave de nossos segredos e eleva- nos ao ápice do que viemos viver e, contudo, esquecemos, ao nascer.
Somos nosso mais compassivo amor. Tudo começa e termina nessa relação de intimidade indefesa, apesar de desconhecida pelo desamparo nosso de cada dia.