Havia anjos! Anjos tal qual anjos andejavam, planavam pelos dias sem iguais.
Havia anjos colorindo os telhados. Anjos dormiam nos terminais. Havia anjos habitando sob as pontes, anjos onde nunca houve paz.
Anjos cujos olhos nos fitavam longe entre as pálpebras ocasionais.
Havia anjos muito além dos descaminhos, anjos havia onde houvesse um sinal. Sinalizavam tantas ruas e ruelas e era sempre a estrada principal.
Cercavam-me os anjos. Anjos loiros, musicais, morenos anjos de madeixas em espirais.
Aquele anjo, quase luz, somente luz, indivisível. Percebia-se somente seu olhar. Olhar de sol, de mel, derramando-se em meus dias, nunca iguais.
Há, ainda há anjos. Anjos a luzir em um olhar, rio a fluir, universo a conduzir transparente fio de água a vicejar.
Evocara dias de anjos angelicais, anjos que aqui não virão jamais. Anjos transformados em mortais, que amaram muito mais.
Anjos, disfarçados entre nós, ficaram no final, aglomerados em vários cais.
Anjos que ainda creem no humano, anjos que nos transfiguram em imortais. Anjos dissimulados entre as gentes… Onde? Não o sabemos nós.
Homens, HÁ, a circunscrever o espaço. Homens a buscar anjos alados. Homens que não veem o óbvio, não sentem o quanto é próximo o anjo esquecido, o anjo buscado, o anjo perdido que os abençoa.
Houve anjos em piras arremetidos, incendiaram-se anjos.
Houve homens, ainda agora há, de corações vazios que de tudo se assenhoram.
E os anjos riem… Um rir angelical, um canto eterno sem final.
Em tempos de sombras revelando o avesso do caminho, ela teimava, teima, insiste em manter o olhar no fio de Luz da Estrela Guia. Ave Maria!