O assunto é delicado e exige atenção, cuidado, respeito e prudência. Principalmente quando se trata de conflitos internacionais com traços históricos e muitos elementos externos e internos que justificam oportunismos para absolvições. Além de armas e tropas, o Premier israelense trava uma guerra de conteúdo e protagonismo por sobrevivência, já que pesquisas internas indicavam fragorosa derrota parlamentar e de apoio popular, somadas as denúncias de corrupção e investigação em curso, neste contexto, uma guerra vem a calhar. As relações entre o Hamas e Likud não são desconhecidas, nem honrosas. Partem de décadas de cooperação regional para objetivos eleitorais, por este prisma, os inimigos se conhecem, cooperam tática e estrategicamente ao longo do tempo, sendo assim, meter a colher neste enlace sem conhecimento profundo e muita informação não é prudente.
As relações desde muito tempo em diversos espectros políticos se completam mundo afora. Hoje, a conectividade global dessas relações se intensificaram e potencializaram ao ponto de ser impossível que guerras aconteçam simultaneamente em dois continentes diferentes e não influenciem popularmente ou economicamente um terceiro continente, principalmente, quando se cria um elo de relação direta ou indiretamente.
Pior é quando assuntos se casam. Neste caso os que precisam de indulgência estimulam crises como subterfúgio e aproveitam rapidamente para a defesa de ideias, ataques aos oponentes, distrações de notícias, fortalecendo e unificando ação a mobilizações e atos como tentativa de fuga do possível cárcere.
Cabe ao líder errar menos possível para não dar margem para o derrotado se reerguer. A distorção de imagens e fatos é um crime continuado no Brasil que alguns praticam por Dolo e outros por Estado de Necessidade, mas todos têm cometido. O risco estará sempre nas comparações, que devem ser superadas em algum momento, mas, por hora, taticamente, são aproveitadas. A questão é seguimos errando voluntariamente, o que é mais preocupante. O governo brasileiro não pode se diminuir na tentativa de, justificado com o erro alheio, buscar conter repercussões. Errar é da trajetória, corrigir também.
No centro da última polêmica temos um assunto que não pode ser reduzido, diminuído, camuflado ou banalizado. Não há hipocrisia na dor histórica. Não existe meio termo para traumas, morte, genocídio, racismo, homofobia e xenofobia. Tratar como dor passada ou superada a da escravidão no Brasil, do extermínio congolês de Leopoldo II ou o holocausto de Hitler, é negar o gatilho social que atingem todos diretamente e indiretamente em suas raízes, as consequências que carregamos no sangue, na pele, na injustiça social, na miséria, na fome em nossos países. Lutamos para sermos melhores a cada dia, lutamos contra essa humanidade perversa que não morreu com o tempo ao contrário se refloriu com novas seduções.
Em coletiva, o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, fez uma fala lúcida, coerente, sincera, sem ironias ou anedotas, para gerar consciência mundial usou a imagem do Holocausto para demonstrar o terror de uma guerra filmada e registrada cinematograficamente. Quando incluiu o Holocausto para ratificar a luta mundial contra a morte de inocentes, foi o recorte para os 15 segundos de compartilhamentos e ataques. O alcance deste símbolo que o Presidente utilizou, foi o suficiente para oportunistas criarem ação conjunta entre o bloco de opositores e inimigos no Brasil e em Israel Netanyahu esbravejar na espera de se afastar do peso do Holocausto Alemão (ninguém quer carregar essa marca na testa).
Entretanto, que fique claro estes só o fizeram porque a comunidade judaica e o povo em Israel reagiram, ou seja, o termo afetou o senso comum. De toda sorte discutir se certo ou errado, polemizar sobre reações, camufla o óbvio, são cometidos crimes e atrocidades sem precedentes nesta guerra, inocentes nos dois lados estão pagando o preço com suas vidas, verbo sagrado no cristianismo, e isso precisa parar. Aos polemizadores corre-se o risco de cumplicizarem-se, relativizando e compactuando com as mortes defendendo mesmo que tacitamente uma etnia ser superior a outra. Pós fala do Presidente Lula, os EUA posicionaram-se oficialmente pelo fim da guerra e nenhum outro chefe de Estado questionou a polêmica.
Nos discursos precisamos compreender e incorporar definitivamente que na Palestina não existe um único pensamento ou atitude representada pelo Hamas e em Israel não existe um único alinhamento político ou cumplicidade nacional com Benjamim Netanyahu. Da mesma forma que no Brasil quando fomos governados por Jair Messias Bolsonaro, não éramos representados por suas opiniões sobre o negacionismo ou a vacinação.
Preocupa o grau de aconselhamento que disputam o entorno do palácio, a falta de tática, de estratégia de ação direta e de comunicação que tem silenciado opiniões. Não crer que o risco a essa altura não está fora e sim dentro daquilo que consideramos área de influência ou apoio governamental, é ausência de senso crítico, que faz sentido quando o objetivo é simplesmente conquistar protagonismos ou novos seguidores. Em tempos de comunicação digital, com cancelamentos ao vivo reproduzidos em tempo real, todo o cuidado é pouco estando em guerra militar ou híbrida.