Hoje no #vemcomigofalardesaúde recebemos a Fonoaudióloga Michele Picanço do Carmo, que vai nos falar sobre Disfagia e Audiologia
O que é disfagia?
É a dificuldade para engolir alimentos, líquidos, saliva ou medicamentos, desde o seu trajeto inicial na boca até a sua transição do esôfago para o estômago. Não é uma doença, mas sim um sintoma que pode trazer prejuízos pulmonares e nutricionais, como desnutrição, desidratação e pneumonia aspirativa. As dificuldades para deglutir também afetam a socialização, a autoimagem do indivíduo, assim como podem limitar a sensação de prazer que o ato de se alimentar proporciona, provocando impacto negativo na qualidade de vida e até risco de morte por asfixia. Isso porque alimentar-se é mais do que uma necessidade, é um ato de prazer e socialização, que une as pessoas.
O que causa?
Pode ser causada por doenças neurológicas e/ou alterações das estruturas que transportam o alimento da boca ao esôfago, como acidente vascular encefálico (derrames), tumores cerebrais, traumatismo cranioencefálico, doença de Parkinson e esclerose lateral amiotrófica (ELA), prematuridade, câncer de cabeça e pescoço, malformações congênitas, próteses dentárias mal adaptadas, refluxo gastroesofágico grave, entubação, entre outros.
Acontece em qual idade?
A disfagia pode acontecer em qualquer faixa etária, do bebê ao idoso.
No bebê que nasce prematuro, a dificuldade em engolir pode colocá-lo em risco pela entrada do leite nos pulmões, pois ele pode não ter desenvolvido plenamente todas as condições e habilidades necessárias para iniciar prontamente a amamentação. A coordenação entre sugar, deglutir e respirar ainda é instável e, portanto, eles precisam de um treino adequado para alcançar o aleitamento natural exclusivo. Podem apresentar baixo ganho de peso, engasgos frequentes, cansaço, sudorese, irritabilidade durante ou após as mamadas, letargia, regurgitações e vômitos frequentes. Nas crianças, podem aparecer engasgos, tosse, mudança da cor da pele, como palidez ou cianose (ficar arroxeado), mudanças na força do corpo, como ficar “molinho” ou muito tenso forçando a cabeça para trás, pode fazer pausa respiratória prolongada, barulho durante a respiração, choro ou voz fraca ou ainda com som “molhado”, como se tivesse secreção na garganta, dificuldade para engolir a saliva e deglutições repetidas. A disfagia pode ser causada por prematuridade, má formação, como a fissura labiopalatina e síndromes (como a de Down, por exemplo).
Nos adultos pode ser decorrente de traumatismo craniano, tumores, infecções, como candidíase, tuberculose, doenças respiratórias, traumatismo cranioencefálico, acidente vascular encefálico, paralisia cerebral. Nos idosos pode ocorrer pelo próprio envelhecimento (presbifagia), pela fraqueza na musculatura e todas as estruturas que participam da deglutição, além da lentidão e incoordenação na execução dos movimentos necessários para engolir. Além disso, a falta de dentes ou próteses mal adaptadas, também aumentam o risco de surgirem dificuldades para engolir.
Como saber se eu tenho disfagia?
A pessoa pode apresentar dificuldade de mastigar, de preparar e manter o alimento dentro da boca e de engolir. Pode ainda apresentar dor, sentir que o alimento está parado, “entalado” na garganta, apresentar voz alterada ou rouca após alimentação, tosse, falta de ar e engasgos durante as refeições ou ao deglutir saliva. Além disso, pode ocorrer perda de peso e dificuldade para respirar causada pela entrada de alimento, saliva ou secreção nos pulmões. Sintomas como náuseas recorrentes, desidratação, desconforto durante ou logo após alimentação e regurgitação do alimento também podem indicar disfagia.
Tem algum exame que identifica a disfagia?
Inicialmente o ideal é passar em consulta médica e com o fonoaudiólogo, que irá avaliar todo o processo de deglutição, desde a força e movimentação de todos as estruturas que participam do ato de engolir (como lábios, língua e bochechas), a mastigação, a deglutição propriamente dita, a voz e se há algum sintoma durante ou após todo o processo da deglutição com vários tipos de alimento (líquido, sólido e pastoso).
Quanto à exames, os mais indicados são a videofluoroscopia da deglutição e a videoendoscopia da deglutição. Na videofluoroscopia a pessoa fica exposta a uma pequena dose de radiação enquanto é observada a deglutição de diversas consistências por meio de imagens radiológicas dinâmicas, que permitem visualizar o trajeto do bolo alimentar da boca até a entrada no estômago. Já na videoendoscopia, é passada uma fibra flexível através do nariz e uma pequena câmera fixada nesta fibra permite visualizar a laringe antes e depois da deglutição. Em ambos os exames, caso haja condições do paciente, são realizados com alimentos de consistências diferentes e o fonoaudiólogo colabora na execução dos dois, auxiliando na escolha das consistências e das manobras mais adequadas para que ocorra a deglutição de forma segura e eficiente, assim como participa da sua análise.
Como tratar?
O tratamento envolve uma equipe de diversos profissionais, como: médico, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, psicólogo, nutricionista, enfermeiro, dentista e assistente sociai. Cada profissional tem sua função no tratamento da disfagia.
O fonoaudiólogo realiza a avaliação da deglutição para identificar quais as alterações existentes, define se há possibilidade de alimentação por via oral de forma segura e colabora na indicação de vias alternativas de alimentação, como sonda nasoenteral, nasogástrica ou gastrostomia, além de realizar a terapia da deglutição.
A duração do tratamento depende da doença de base, se houve procedimento cirúrgico, das condições clínicas, anatômicas, nutricionais, da idade do indivíduo, entre outros fatores.
Em resumo: Se você perceber que uma pessoa apresenta dificuldade ao engolir, sensação de algo parado na garganta, tosses ou engasgos frequentes causados por alimentos ou pela saliva, notar cansaço, febre, rouquidão ou restos de comida na boca após a alimentação, cuidado! Pode ser Disfagia
Como posso evitar que ocorra a disfagia?
Algumas dicas durante a alimentação:
_Manter a postura reta e confortável, nunca comer deitado,
Comer sem pressa,
_Manter a prótese dentária bem adaptada;
_Caso necessário, ofereça alimentos mais pastosos e líquidos mais grossos, pois o engasgo com alimento líquido é o mais frequente.
_Após se alimentar faça a higiene oral e não deitem logo em seguida, pois aumenta o risco de engasgo e retorno do alimento.
Convidada
Dra. Michele Picanço do Carmo
Doutora e Mestre em Fonoaudiologia Clínica
Especialista em Disfagia e Audiologia
Fonoaudióloga do HU-UNIFAP e HCAL
Conselheira do CREFONO9
Voluntária da Associação Brasileira de Câncer de Cabeça e Pescoço
Conselheira em Aleitamento Materno pelo Ministério da Saúde