O sistema eleitoral dos Estados Unidos em muito se difere do brasileiro e, devido a isso, muitas pessoas não entendem o seu funcionamento. As eleições dos Estados Unidos são descentralizadas e indiretas, pois o cidadão vota no representante do seu candidato e não no candidato em si. Entenda, abaixo, como o pleito desta terça-feira, 5 de novembro, acontece.
Nos EUA, os candidatos são eleitos não pelo número de votos que recebem, mas, sim, pelo número de delegados que vencem e os votos não são feitos para cada um dos candidatos e, sim, para os representantes dos partidos, os chamados delegados.
O pesquisador em Relações Internacionais pelo Programa San Tiago Dantas e especialista em EUA Emanuel de Franco explica o que são eleições descentralizadas e indiretas.
“Descentralizadas, porque ocorrem em cada um dos 50 estados de maneira separada. Ou seja, no final do jogo, no final das votações, importa mais ao candidato ou à candidata o número de estados e quais estados foram esses em que ele ganhou do que o número de votos totais a nível nacional”, descreve Emanuel.
Os votos são computados por meio dos delegados que “são ativistas, membros do partido, figuras públicas, pessoas que de alguma maneira estão ligadas ao partido e que são escolhidas pelos partidos para representar, de alguma maneira, o seu candidato, ou a sua candidata, na corrida eleitoral”.
Segundo o especialista, “cada estado nos Estados Unidos vai ter um número X de delegados para poder eleger ao colégio eleitoral. Essa distribuição vai se dar de acordo com a densidade demográfica de cada estado, e esses dados vão se basear no censo oficial do país. E aí, nesse sentido, o eleitorado daquele determinado estado vai votar no delegado que representa o seu candidato ou a sua candidata”.
Sendo assim, quem vence a eleição dos EUA é o candidato que tiver, pelo menos, 270 delegados reunidos para si ao final das 50 eleições que ocorrem ao mesmo tempo dentro da União, em cada um dos estados.
“Leva tudo”
O sistema eleitoral norte-americano é determinado pelo sistema “winner takes all” (vencedor leva tudo), ou seja, o candidato que vencer em algum desses estados vai levar todos os delegados daquele estado. Então, se um estado tem 20 delegados, por exemplo, e o candidato X fica com 50% dos votos mais um, a distribuição não vai ser proporcional. O candidato que vencer, mesmo que por um voto a mais, vai levar todos os delegados daquele estado.
Maine e Nebraska são os únicos estados que não concedem todos os delegados a um único candidato com base no voto majoritário.
Swing States
Outro diferencial das eleições dos Estados Unidos são os chamados “swing states” (estados-pêndulo), aqueles que não têm um partido definido, ou seja, eles variam de eleição para eleição e, por isso, são os principais alvos dos candidatos.
O pesquisador Emanuel Assis explica que os “os swing states, em tradução livre, são estados-pêndulos. Ou seja, ora eles vão para um lado votando no candidato do Partido Democrata, ora vão para o outro lado votando no candidato do Partido Republicano. Isso é importante porque os estados nos Estados Unidos têm uma tradição histórica de manter a base ideológica do seu voto”.
Nos Estados Unidos, a margem de flutuação de alguns estados como Nova York e Texas é pequena, pois são estados que historicamente, sempre ou quase sempre, votam no candidato do Partido Democrata ou no candidato do Partido Republicano. Como exemplo tem Califórnia e Nova York que são estados que historicamente votam no candidato ou na candidata do Partido Democrata. Já o Texas e a Flórida a tradição é votarem nos candidatos presidenciais do Partido Republicano.
Os swing states, devido à flexibilidade, acabam sendo os responsáveis por definir o resultado das eleições dos EUA.
“São estados que são mais disputáveis, vamos dizer assim. São estados onde, de fato, a corrida acontece. Esse ano, por exemplo, são sete “swing states”, Michigan, Carolina do Norte, Wisconsin, Pensilvânia, Nevada, Arizona e Georgia. São seis estados em que a corrida está bem acirrada e que os candidatos, a Kamala e o Trump, estão disputando”, explica o pesquisador.
Esses estados tornam-se os mais importantes das eleições, “porque nos estados onde se tem essa tradição de sempre votar no candidato republicano ou sempre votar no candidato democrata os resultados meio que já estão dados, as pesquisas já mostram isso. Os partidos não vão gastar o seu capital político, o seu capital de campanha, o seu dinheiro e os seus esforços em estados onde eles sempre ganharam, onde eles sabem que os resultados não vão mudar a favor do outro candidato”.
“No final do jogo, os estados-pêndulos vão ser os fiéis da balança, ainda mais em uma eleição tão polarizada e tão disputada e acirrada como a que está sendo esse ano” conclui Emanuel Assis.
Contagem de votos
Os votos nos Estados Unidos são realizados em papel e tem três modalidades: a votação por correio, a votação antecipada e a votação tradicional no dia 5 de novembro.
A votação antecipada é a modalidade na qual os eleitores podem votar presencialmente ou enviar o voto pelos correios. O objetivo é melhorar a taxa de participação, além de reduzir as filas nos postos.
A votação presencial no dia 5 de novembro é prevista na constituição do país e é a única data fixa para todos os estados dos EUA, visto que as demais regras são estabelecidas por estado.
A contagem dos votos de papel é feita por máquinas e controlada pelas autoridades eleitorais de cada um dos colégios eleitorais, o que pode levar algum tempo. Em 2020, Joe Biden foi anunciado como o vencedor em 7 de novembro, quatro dias após a eleição.
Com informações do Metrópoles