Fernando Canto, poeta das águas e dos mistérios da floresta, partiu para o infinito deixando seu rastro entre as marés e os caminhos das matas como quem se despede com promessas de retorno. A cada palavra que teceu, nos revelou a Amazônia esplêndida em sua forma mais primitiva, onde o vento canta, o rio murmura e a lua nasce plena de mistérios. O fio de sua memória, tecido em tempos imemoriais, permanece entrelaçado em nossos corações e é possível sentir nas palavras que deixou o perfume caboclo das mãos que desenharam suas canções. Ele mergulhou fundo no escuro labirinto do tempo, extraindo de lá a essência de um povo e uma cultura que insistem em resistir, como um novelo a se desenrolar em outras paragens do cosmo. Em sua cosmologia haverá “marabaixetas” celestiais em doces rufares de tambores divinos.
Sua dissertação poética sobre o retorno à luz, talvez já intencionasse seguir o caminho das constelações, cruzando galáxias, em busca de novos versos e novas paragens onde pudesse fincar seu canto. Fernando, em sua poesia, flertava com as ondas interplanetárias, sonhando com outras fronteiras do espaço, um território onde os ecos de seu canto poderiam reverberar sem fim. Trouxe para a poesia a pororoca e o povo das malocas, guerreiros que habitam o imaginário amazônico e que agora, talvez, sejam seus companheiros na jornada cósmica. Era como se o poeta soubesse que sua alma pertencia a mais de um lugar e que sua palavra era um elo entre mundos — não só da terra, mas do céu, dos rios e do universo em expansão.
No seu coração o “laguinho” era o centro, um pedacinho de sua memória que carregava como quem carrega a força de um mundo inteiro. “Laguinhar é preciso” dizia, em uma prece cotidiana que capturava o pulso da terra e a simplicidade de seu lugar de encantarias onde tateava o oculto sublime. Fernando teceu suas raízes na Amazônia e, mesmo ao atravessar o espaço, essas raízes continuam fincadas na terra molhada da floresta, no brilho úmido do rio, na textura dos mistérios que o inspiraram. Sua partida não é um adeus; é um eco que se reflete nas águas, uma canção que volta, mais suave e mais forte, dançando com a maré e com o ritmo eterno das luas e das estrelas.
Não há ausência no seu derradeiro aceno ao planeta Terra, há o espaço deificado que a luz deixa ao partir, mas sua presença se espalha como o brilho das estrelas que parecem desaparecer, mas que, na verdade, só seguem a iluminar novos caminhos. Fernando não se foi — ele apenas encontrou uma nova morada, onde seu verso continua a pulsar e seu canto se expande para além dos limites da nossa precária percepção. Em outro canto do universo, entre constelações e ondas de rios estelares, ele prossegue, Poeta-luz, a iluminar outras paisagens e a lembrar que, um dia, sempre voltaremos à luz “com a faca presa na cintura e o revólver ao alcance das mãos” prontos para guerrear armados de poesias e canções.
Fernando Canto: o Poeta-luz!
Deixe um comentário