Esteatose hepática ou “gordura no fígado é o nome popular de uma condição muito comum e que pode evoluir para sérios problemas de saúde, inclusive câncer. Na maioria das vezes, ela não dá nenhum sintoma e pode ser descoberta “sem querer” por exame de rotina ou quando já há consequências mais graves, como inflamação, fibrose (cicatrizes) e até cirrose.
A gordura no fígado ocorre quando o orgão, que deveria armazenar pouco ou nenhum lipídio, acumula gordura em excesso dentro das células. Isso pode acontecer por vários motivos, mas hoje o principal é a síndrome metabólica, um conjunto de fatores relacionados com obesidade abdominal (barriga grande), colesterol ou triglicérides altos, pressão alta, diabetes ou pré-diabetes e sedentarismo.
O nome técnico atual é MASLD (do inglês – doença hepática associada à disfunção metabólica). A esteatose cresce rapidamente no mundo todo, inclusive no Brasil. No mundo cerca de 1 em cada 3 adultos tem gordura no fígado, enquanto no Brasil encontramos em cerca de 35% dos adultos examinados. Entre as crianças e adolescentes com obesidade quase metade já apresenta gordura no fígado, um dado alarmante para o futuro da saúde pública.
Mesmo sem sintomas, a esteatose pode trazer complicações sérias, como o risco aumentado de infarto e AVC. A principal causa de morte entre pessoas com gordura no fígado não é a cirrose, e sim problemas cardiovasculares. Isso acontece porque o acúmulo de gordura no fígado aumenta a inflamação geral no corpo, favorecendo o entupimento de artérias.
Em outra parte dos casos, a gordura evolui para uma forma inflamada e as células do fígado começam a se lesionar ocorrendo a formação de cicatrizes (fibrose). Com o passar do tempo, se não houver tratamento, a fibrose pode progredir até a cirrose, quando o fígado já está muito danificado e, em pessoas com cirrose, o risco de câncer hepático aumenta consideravelmente. Estudos mostram que quem tem cirrose, tem 20 vezes mais risco de câncer de fígado.
Pessoas com gordura no fígado têm risco até 2 vezes maior de desenvolver diabetes tipo 2 e maior chance de desenvolver doença renal crônica, especialmente quando há inflamação no fígado. Muita gente só descobre ao fazer exames por outros motivos. Por isso, é importante ficar atento se você pertence a algum grupo de risco (obesidade abdominal, triglicérides ou colesterol alto, pressão alta ou pré-diabetes/diabetes, apneia do sono).
É possível reverter o problema na grande maioria dos casos com mudanças no estilo de vida, portanto, deve-se adotar uma dieta rica em verduras, frutas, grãos integrais, azeite e peixes, reduzindo açúcares, bebidas alcoólicas e ultraprocessados ajudando a “limpar” o fígado e controlar o colesterol.
Procurar fazer 30 minutos por dia de exercício (como caminhada rápida, bicicleta ou musculação), pois ajudam a melhorar a gordura no fígado. Estudos mostram que perder 3% a 5% do peso já melhora a esteatose, perder 7% a 10% do peso ajuda a reverter a inflamação e perder mais de 10% do peso pode até reverter cicatrizes no fígado. Uma curiosidade é que pessoas que bebem 2 a 3 xícaras de café por dia (sem açúcar) apresentam menor risco de progressão para cirrose ou câncer.
Ainda não existe “pílula mágica”, mas existem medicamentos que auxiliam no tratamento em conjunto com mudança de estilo de vida, e só devem ser usados com prescrição médica, em casos selecionados.
Quando procurar um médico? Se você tem sobrepeso, barriga grande, diabetes, pressão alta ou colesterol alto, ou se já teve alteração nos exames do fígado, é hora de investigar. Quanto antes identificar, maiores as chances de reversão total.
Gordura no fígado (Esteatose) e suas complicações

Especialista em Nefrologia e Clínica Médica; Membro titular da Sociedade
Brasileira de Nefrologia Professor da Universidade Federal do Amapá
(UNIFAP); Mestre em Ciências da Saúde Preceptor de Clínica Médica. CRM
892 RQE 386