A Semana Santa está aí! Novamente a cena de Jesus adentrando em Jerusalém permeia os nossos pensamentos, e novamente um quadro em nosso imaginário é pintado. Pintamos um quadro encantador, de ver Jesus entrar em Jerusalém sendo aclamado com hosana nas alturas. Cabe lembrar que Hosana significa uma exclamação de louvor e adoração. O povo estava feliz, pois viu em Cristo o enviado de Deus o descendente de Davi que tira o pecado do mundo.
E consequentemente como um retrato de João 3.16-17: “(16) Porque Deus amou o mundo tanto, que deu o seu único Filho, para que todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna. (17) Pois Deus mandou o seu Filho para salvar o mundo e não para julgá-lo.”
Sim!!! O Rei Jesus sendo aclamado como Rei pelo povo, por aqueles que esperavam um salvador. O cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo conforme professado por João Batista em João 1.29-31: “(29) …— Aí está o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! (30) Eu estava falando a respeito dele quando disse: “Depois de mim vem um homem que é mais importante do que eu, pois antes de eu nascer ele já existia.” (31) Eu mesmo não sabia quem ele era, mas vim, batizando com água para que o povo de Israel saiba quem ele é.” tudo começa a se encaixar! Um dia festivo, o dia do Domingo de Ramos, mas o começo de uma semana de sofrimentos profundos para o nosso Salvador.
O Redentor se entregando em amor ao seu povo. Que o recebe reconhecendo nele o único que salvar, nem mesmo o poderoso império Romano ou os líderes fariseus, saduceus e os mestres da lei desanimaram as pessoas de cantar e enaltecer o Rei aquele que nascera em Belém e que Herodes tentou matar, que as autoridades não o exaltaram, mas que os viajantes distantes lhe ofereceram ouro, incenso e mirra. O redentor que o povo já cantava e exaltava sem conhecê-lo visivelmente, mas o fazia por fé, conforme está registrado no Salmo 118.19-29: “(19) Abram os portões do Templo para mim; eu entrarei e louvarei o Senhor. (20) Este é o portão do Senhor; somente os que lhe obedecem podem entrar por ele. (21)Ó Deus, eu te louvo porque me escutaste e me deste a vitória. (22)A pedra que os construtores rejeitaram veio a ser a mais importante de todas. (23) Isso foi feito pelo Senhor e é uma coisa maravilhosa! (24) Este é o dia da vitória de Deus, o Senhor; que seja para nós um dia de felicidade e alegria! (25) Salva-nos, ó Senhor, salva-nos! Dá-nos prosperidade, ó Deus! (26) Que Deus abençoe aquele que vem em nome de Deus, o Senhor! Daqui do Templo do Senhor, nós abençoamos todos vocês. (27)O Senhor é Deus; ele é a nossa luz. Com ramos nas mãos, comecem a festa e andem em volta do altar. (28) Tu és o meu Deus — eu te louvarei; tu és o meu Deus — eu anunciarei a tua grandeza. (29) Deem graças a Deus, o Senhor, porque ele é bom e porque o seu amor dura para sempre.”
Exatamente isso que o povo faz, é uma personificação do Salmo, onde tudo que antes era apenas uma esperança agora com Jesus é real é visível e transcende o louvor, está além das sinagogas, mas as ruas são tomadas pelo louvor. O povo está exultante com a presença do Rei. Como destacamos acima, as poderosas autoridades que metiam medo nas pessoas naquele momento da entrada de Jesus em Jerusalém perderam o seu poder. É o cumprimento da profecia do profeta Zacarias, quando este escreveu a sua profecia por volta de 520 anos antes de Cristo. O profeta já recebera a revelação do que haveria de acontecer e assim aconteceu. Por exemplo em Gênesis 1, quando é registrado o ato da criação num momento diz que Deus falou que era para acontecer e em seguida já vem a resposta dizendo e assim aconteceu. Nas profecias também Deus avisa o que vai acontecer e logo em seguida no tempo de Deus as profecias de cumprem, vejamos o que Zacarias escreveu no capítulo 9.9-17: “(9) Alegre-se muito, povo de Sião! Moradores de Jerusalém, cantem de alegria, pois o seu rei está chegando. Ele vem triunfante e vitorioso; mas é humilde, e está montado num jumento, num jumentinho, filho de jumenta. (10) Ele acabará com os carros de guerra de Israel e com a cavalaria de Jerusalém; os arcos e as flechas serão destruídos. Ele fará com que as nações vivam em paz; o seu reino irá de um mar a outro, e desde o rio Eufrates até os fins da terra. A futura grandeza de Israel (11)O Senhor Deus diz: “Moradores de Jerusalém, eu fiz uma aliança com vocês, que foi selada com sangue. Por isso, vou tirar o seu povo do cativeiro, daquele poço sem água. (12) Prisioneiros, voltem para a sua fortaleza; voltem todos os que ainda têm esperança. Pois vou lhes dar duas vezes mais bênçãos do que os castigos que vocês receberam.” Todas as coisas que aconteceram e as que ainda vão acontecer já falam a respeito da presença de Deus no meio do seu povo. Ele misericordiosamente mostra humildade e em humildade nos cativa escandalizando os que se acham os investidos de grandeza e arrogância. A entrada de Jesus em Jerusalém aclamado pelo povo nos ensina muito.
Por isso que mais tarde, quando, após a ressurreição de Cristo o Apóstolo Paulo entendendo que o amor de Deus nos transforma de tal modo que toda lei a qual ele seguia perdera o valor, pois agora o importante é estar e ser imitadores de Cristo, tanto no modo de ser como de viver. Paulo quando entendeu isso pelo evangelho pode confessar que: “Eu não me envergonho do evangelho, pois ele é o poder de Deus para salvar todos os que creem, primeiro os judeus e também os não judeus.
(Romanos 1.16).”
Isso é tão importante que mais tarde o Apóstolo Paulo ao escrever aos cristãos de Filipos os incentiva a serem diferentes, de tudo aquilo do qual eles eram, mas deveriam também abandonar a velha vida e agora viver como se as promessas da vida eterna, já estava acontecendo. Ele diz como que os desafiando a: Tenham entre vocês o mesmo modo de pensar que Cristo Jesus tinha (Filipenses 2.5). Nos versículos anteriores, o Apóstolo Paulo convida a comunidade de Filipos a assumirem posturas de vida de caráter positivo que venham a criar um ambiente comunitário e de relações pessoais, um ambiente agradável, fraterno, construtivo: “(2) Então peço que me deem a grande satisfação de viverem em harmonia, tendo um mesmo amor e sendo unidos de alma e mente. (3) Não façam nada por interesse pessoal ou por desejos tolos de receber elogios; mas sejam humildes e considerem os outros superiores a vocês mesmos. (4) Que ninguém procure somente os seus próprios interesses, mas também os dos outros. (Filipenses 2.2-4)” E ele conclui essa série de recomendações com o desafio: “Tende o mesmo sentimento que também caracterizou a Jesus”.
Portanto, o Apóstolo Paulo convida para determinada postura, determinada compreensão de vida, um princípio de existência. Talvez a grande pergunta para nós a partir do texto seja: Que modo de pensar eu tenho? Sou frio ou quente, ou ainda, sou morno? É uma preocupação que rodeia a vida do cristão desde os primeiros passos de vida. Paulo recomenda que tenhamos uma postura como cristo teve exatamente por que ele é a compreensão máxima do amor de Deus entre as pessoas. Amor incondicional, Paulo não quer nos incentivar a ter uma vida de forma legalista, impositiva. Pelo contrário, ele apresenta a fundamentação para tal postura. Ele traz o fundamento para uma nova maneira de ver e compreender a vida. E é disso que fala o nosso texto de hoje.
Os versículos do texto são, talvez, o mais antigo hino que descreve a história do Jesus que se torna o Cristo. É uma poesia que canta toda a trajetória do Filho de Deus, desde a pré-existência junto a Deus até a sua exaltação junto a Deus: Ele era divino, mas não hesitou em tornar-se humano. E como humano sujeitou-se às condições humanas, mas não sucumbiu a elas. Permaneceu obediente ao Pai até a morte, morte na cruz. E por ter sido assim, humilde a tal ponto de se tornar humano e totalmente obediente ao Pai, Deus o exaltou novamente à condição divina e lhe deu o nome que está acima de todos os nomes. Por causa desta trajetória – da mais sublime posição até a mais humilhante condição de morte na cruz – Jesus é o Cristo, o Senhor sobre todos os senhores. E por isso lhe cabe o louvor.
Jesus se torna o Senhor justamente pelo caminho contrário ao que normalmente os senhores deste mundo seguem. Ao invés de trilhar o roteiro da força, do poder, da subjugação e dominação, ele segue a rota inversa. Ele abdica de sua condição de poder e se torna humilde.
E toda a trajetória humana de Jesus, como nos relatam os evangelhos, foi de simplicidade de vida, de serviço ao próximo, de ajuda ao necessitado, de solidariedade com o marginalizado. E na contrapartida, o questionamento de estruturas, de modelos de vida, de idéias que oprimem ou impedem a vida. E nesta sua postura Jesus não faz outra coisa do que ser obediente ao Pai, ou seja, viver a maneira de ser de Deus em relação à sua criação. Mas justamente essa sua maneira de ser e de viver não é suportada por quem é ou quer ser o senhor, por aqueles que detêm o poder. Por isso ele precisa ser eliminado. E é morto em morte de Cruz. A cruz é a forma mais humilhante que se conhecia na época para morrer. E a entrada de Jesus em Jerusalém é festa, pois o rei sofredor, mas vencedor na cruz e confirmado pela Ressurreição é uma amostra de que os planos de Deus são diferentes dos planos do mundo e que é melhor servir ao Senhor e fazer parte do seu reino do que viver como se não tivesse amanhã e perder a eternidade.
Assim, de um lado, a cruz é a maneira que os senhores do mundo encontram para humilhar ao extremo quem ousa questionar o seu poder e para aniquilar a sua proposta. Mas, por outro lado, a cruz se torna justamente o símbolo da derrota dos poderes deste mundo e da vitória do obediente, do humilde, do servo. Porque Deus o ressuscita da morte e com isso demonstra cabalmente como é sua maneira de ser e qual é o poder que de fato vence o mundo.
Isso nos leva ao terceiro aspecto. Jesus, o servo humilde, se torna modelo, de humilde, obediência, solidariedade, por isso, exaltado – Jesus inaugura o Reino de Deus entre nós.
Aceitar o senhorio deste servo humilhado é participar da salvação que ele traz, é passar a ser cidadão do Reino de Deus. E aceitar este senhorio é também seguir a Jesus na nossa vivência cristã. Evidentemente não se trata de imitar a Jesus. Nesse sentido ele é inimitável. Mas se trata de ter nele o modelo de vida.
Uma vida assim poderá significar ser pobre aos olhos do mundo – sem muitos bens, sem muito prestígio, sem muita badalação. Mas certamente será uma vida extremamente rica aos olhos de Deus. Porque não precisamos conquistar nada. Nós já temos tudo. Nós somos cidadãos do Reino onde este servo humilde é Senhor sobre tudo e sobre todos.
Quaresma época de rever a vida e crer que temos nova vida pela obediência de Jesus. Que seja esta nova vida aquela que já nos foi dada de presente por este Senhor. E que seja uma vida nova no modelo deste Senhor – de serviço, de acolhimento, de solidariedade. Uma vida nova assim será um joelho que se dobra e uma língua que confessa: Jesus Cristo é o Senhor para a glória de Deus Pai. Amém!