Yulia Svyrydenko, de 39 anos, incorpora uma nova geração de líderes políticos que comandam a Ucrânia através das turbulências da guerra russo-ucraniana. Ela estava à frente da pasta da Economia desde novembro de 2021, apenas alguns meses antes do início da invasão russa em fevereiro de 2022.
Sua nomeação pelo presidente Volodymyr Zelensky foi ratificada nesta quinta-feira (17) pelo Parlamento ucraniano, que no mesmo dia aprovou uma grande reforma do governo.
“É uma grande honra para mim liderar o governo da Ucrânia hoje”, escreveu a Svyrydenko nas redes sociais na quinta-feira, acrescentando que “a guerra não deixa espaço para atrasos. Devemos agir de forma rápida e decisiva”.
Graduada pela Universidade de Comércio e Economia de Kiev, a política se destacou este ano por desempenhar um papel central nas negociações com Washington sobre a exploração dos recursos naturais da Ucrânia.
Os analistas concordam que ela conquistou o respeito dos parceiros dos EUA, inclusive de altos funcionários. “Trump e seu governo passaram a ser uma prioridade para a Ucrânia. Svyrydenko provou seu valor nesse nível e continuará a fazê-lo”, disse o analista político Volodymyr Fessenko.
As profundas discordâncias sobre essa questão quase causaram um rompimento entre Kiev e seu principal aliado militar. O acordo estava no centro da disputa entre Volodymyr Zelensky e o presidente norte-americano, Donald Trump, na Casa Branca em fevereiro.
Novos nomes no governo da Ucrânia
As nomeações devem incluir figuras leais a Zelensky, em um momento em que as negociações com Moscou estão em um impasse e os Estados Unidos prometem renovar o apoio a Kiev.
A especialista em Ucrânia, Annie Daubenton, autora de “Ukraine. L’indépendance à tout prix” (Ucrânia. Independência a qualquer preço, na tradução do francês), afirmou em entrevista à RFI nesta quinta-feira que a “reforma está sendo planejada há vários meses” e sugere que pode haver alguma interferência dos Estados Unidos no processo.
Segundo ela, “Zelensky havia considerado a possibilidade de substituir o primeiro-ministro Denys Shmyhal em várias ocasiões, sem realmente agir ou encontrar o momento certo”.
Annie Daubenton chama a atenção para a presença em Kiev de Keith Kellogg, enviado dos Estados Unidos responsável pelas questões do Oriente Médio. Segundo ela, o fato de o representante de Washington desembarcar na Ucrânia logo após o presidente norte-americano, Donald Trump, ter expressado publicamente seu desagrado com o presidente russo, Vladimir Putin, sobre o conflito, não parece ter sido um acaso.
“Keith Kellogg estava em Kiev havia três dias. Não podemos afirmar que os americanos não se envolveram diretamente na reforma do governo. Mas pelo menos no que diz respeito aos cargos de embaixador e ao novo impulso dado às relações ucraniano-americanas, é provável que Kellogg não seja totalmente alheio a isso”, analisa a especialista.
Um novo embaixador para os Estados Unidos
O presidente Zelensky deu a entender que Roustem Oumerov, atual ministro da Defesa e membro da equipe de negociação com a Rússia, poderia se tornar embaixador em Washington, embora essa nomeação ainda não tenha sido confirmada. “A Ucrânia precisa de uma dinâmica mais positiva em suas relações com os Estados Unidos, bem como de novas medidas na gestão do nosso setor de defesa”, disse Zelensky a Rustem Oumerov em uma reunião na semana passada.
Donald Trump criticou duramente as dezenas de bilhões de dólares em ajuda à Ucrânia concedida por seu antecessor Joe Biden, mas acabou autorizando os países membros da Otan a comprar armas em nome de Kiev.
A possível nomeação do Oumerov “só pode significar uma coisa: a questão fundamental atual nas relações entre os Estados Unidos e a Ucrânia são as armas”, disse à AFP o analista político Volodymyr Fessenko. “O fornecimento de armas é o problema número um. O segundo são as negociações para acabar com a guerra. Oumerov estava envolvido em ambos”, acrescentou. O primeiro-ministro que está deixando o cargo, Denys Shmyhal, um tecnocrata despretensioso, deverá assumir o cargo de chefe do Ministério da Defesa, anunciou Zelensky.
De acordo com Fessenko, a nomeação de Denys Shmyhal para o Ministério da Defesa deve “trazer mais ordem” nessa instituição, que foi prejudicada por repetidos escândalos de corrupção.
Fonte: Metrópoles