Porque quando você tenta, você acredita que vai fazer uma parte, o seu melhor, para um objetivo, que pode ser levar o conhecimento, a técnica, o aprendizado, o amor, seja lá o que tenha definido como propósito. Mas só pode fazer cinquenta por cento, por você estar no modo tentativa, porque os outros cinquenta por cento vão vir das circunstâncias externas.
Esse é o paradigma da tentativa. Por sinal, muito arraigado no inconsciente coletivo. Em outras palavras, você faz a sua parte e o mundo é que faça a parte dele. Como assim? As causalidades, os obstáculos, as rivalidades, as reviravoltas vêm da contrapartida dos outros ou não? Repelir os seus sonhos ou desejos é o papel dos outros cinquenta por cento, no modo tentativa. Sempre será você versos alguma situação, caso contrário, não seria tentativa.
Se você tenta, você está fazendo a sua parte de colocar o seu melhor, mas existe um inimigo, uma “força contrária externa”, fazendo a parte dela de não facilitar para você, que também é de cinquenta por cento. Existem essas circunstâncias externas no paradigma de quem está tentando.
Agora, convenhamos, os grandes players não fazem só cinquenta por cento. Eles definitivamente não tentam. Nunca serão eles versus as circunstâncias adversas. Eles se tornam o próprio movimento circunstancial. Quando você tenta, só pode fazer cinquenta por cento. Você ainda não descobriu o seu máximo potencial. Não se trata de lutar, mas de fazer sem considerar como inimigas as ocorrências externas. É se fundir com aquilo que você está fazendo.
O medo é um excelente indicador do paradigma da tentativa. Ele a precede. Por isso, perceba: a tentativa está fadada ao fracasso. Será sempre você versos alguma coisa. O pior é que esgotam as forças, definham. Confiar à sorte também é corroborar com esse modelo de pensar: dando certo, ok, dando errado, paciência. E de novo exaure o bom ânimo, porque é sabido que a sorte contempla um número reduzido de pessoas. Não equilibra uma vida de tentativas.
Nada assim flui, uma vez que você dá seus cinquenta por cento e a vida tira. Você permanece a bel prazer, à “mão do inimigo” – tentar é unilateral. É uma dinâmica exaustiva e ingrata. Boa parte das pessoas nem tentam, certos de que não vale a pena.
O paradigma, talvez, que se contrapõe ao do tentar é o do fluir com as circunstâncias, é o do ser um com o que se quer. Não é o orador e os espectadores, mas o transmitir da mensagem. Não é o jogador e a rede, é o jogar. Não é o atleta e o adversário, é o provar dos obstáculos. É o viver dos desafios e o mover-se em direção. É a jornada (do herói). É vivo. Não requer energia de luta, de combate, de duelos.
A vida não é sobre isso. Não é sobre fazer o básico e torcer para uma força contrária querer ser amistosa. Sem analisar esses paradigmas, a mudança não vem. Se você se lança a viver, de verdade, você vai transmitir sua intenção e o receptor irá receber, ambos com suas peculiaridades e perspectivas. A tradução disso é individualizada. E o progresso é certo, porque o que vale é ser o verbo.
Mas a comunicação real ocorre quando quem comunica dissolveu o próprio ego e o próprio sujeito passivo ou receptor, quando o que há é o desígnio da mensagem. E quando a mensagem fica é forte. A mensagem se sobrepõe a tudo: às circunstâncias, aos adversários, aos clientes, à economia, à política, ao fardo familiar ou físico.
A perfeição assume muitas facetas. Geralmente, agrada uns e desafia outros, mas manifesta sua totalidade no falar, no dançar, no cantar, no jogar, no construir, no manifestar, no emanar do veículo humano. Sempre e sem equívocos, é a expressão da verdade percebida pelo ato, naquele momento. Ela ludibria os cinco sentidos, confunde a razão e entorpece a alma. Ela é você em sua máxima confissão.