Tal explosão gerará 10 bilhões de bocas famintas e a produção de alimentos em áreas de clima temperado é pífia. Os grandes produtores do passado não dispõem de áreas agricultáveis para a expansão de produção suficiente para alimentar esse aumento populacional.
Vejamos partes do texto publicado por Jamil Chade, colunista do UOL, em 21/11/2020, analisando a postura do G-20:
“Se depender da Europa, a pressão ambiental sobre as exportações brasileiras vai aumentar. A partir de hoje, líderes das maiores economias mundiais se reúnem para a cúpula do G-20 e, na agenda, estará o esboço de uma arquitetura para o mundo pós-pandemia. Uma das propostas feitas pela UE (União Europeia) é de que todos os acordos comerciais sejam permeados e condicionados por critérios de compromissos ambientais, de biodiversidade, emissões de gases e climáticos………… Os europeus não querem que isso se limite aos tratados bilaterais. Mas, também, à própria reforma da OMC (Organização Mundial do Comércio) a partir de 2021, com ideias sobre o estabelecimento até mesmo de impostos climáticos sobre bens que viriam de países onde as leis ambientais não sejam da mesma dimensão”.
Diante dessa análise, o que está pretendendo a União Europeia? Será que a cupidez pelo protagonismo no mercado internacional os cegou ou existem outras intenções?
O alvo da campanha europeia tem nome e endereço, o Brasil e a sua agricultura tropical que já, nos dias de hoje, vem ajudando a diminuir a fome no planeta com sua quantidade, qualidade e preços acessíveis às populações mais pobres.
Surpreendentemente o reconhecimento da qualidade da nossa carne vem do nosso maior cliente, a China, apesar de todas as críticas, oriundas de argumentos ideológicos. Os demais clientes se limitam a se locupletar dos nossos preços e criticar.
Vejamos um tópico de uma matéria publicada recentemente pelo jornal “O Estado de São Paulo”:
Shenggen Fan garantiu que a China está disposta a pagar mais pela carne “carbono neutro” e reconheceu que, embora “mais barata”, a proteína brasileira é de qualidade. Recomendou ainda que o Brasil invista num trabalho de marketing no país asiático para garantir ao consumidor a sustentabilidade do produto. “Os chineses estão ávidos por dieta saudável e sustentável e vocês têm de mostrar isso”, disse. “Esse trabalho é demorado, mas deve começar.” *Shenggen Fan é professor da China Agricultural University.
Paralelamente supermercados franceses, alguns já implantados no Brasil, se unem contra a produção de soja no cerrado em campanha contra a importação dos produtos da região. Estabeleceram como marco temporal qualquer desmatamento para o cultivo a partir de 1° de janeiro de 2021, em flagrante desrespeito à legislação brasileira que permite um percentual de desmatamento. Para os franceses pouco importa se o desmatamento é legal ou não. A alegação é que a maior parte da soja produzida se destina a alimentação animal. E daí? Os animais que serão alimentados não são os mesmos que produzem carne, enriquecendo com a melhor e mais completa proteína a alimentação humana? Já analisei em outro artigo (O Brasil no olho do furacão), publicado em 18/10/2020, o comportamento de alguns países que integram a União Europeia:
“A cultura do expansionismo nasceu no velho continente europeu, comandado por países notadamente colonialistas, que devastaram suas florestas originais, exploraram à exaustão seus próprios recursos naturais e partiram para fazer o mesmo nos demais países de outros continentes, destruindo a natureza, pilhando riquezas, escravizando e explorando outros povos.
Seguindo a lógica atual, mudanças climáticas e emissão de gases de efeito estufa, podemos afirmar, sem medo de errar, que o velho continente, há séculos, iniciou todo esse processo de agressão ao meio ambiente, em prejuízo de todos, sem o menor pudor. Agora pretendem reescrever a história para esquecermos os seus pecados e crimes do passado. Posam de santos e xerifes do planeta. Criaram e estão desenvolvendo uma forma insidiosa de domínio através da nova receita de colonialismo – a ideologia ambientalista. O mais grave é que tentam creditar a conta de seus pecados e crimes do passado, ao Brasil”.
Mas, creio que o assunto merece uma maior reflexão diante do fato, inegável, de que haverá uma explosão populacional até 2050 e os países que detém a Agricultura Temperada não possuem mais áreas agricultáveis para a ampliação da produção de alimentos. Todos são sabedores dessa realidade, inclusive, os europeus. Fica então a grande pergunta: o que pretende realmente a União Europeia tentando reprimir a produção de alimentos nas áreas tropicais, com a utilização da ecologia como arma sugerida por Maurice Guernier em 1980? Será apenas o desejo de excluir o Brasil do mercado internacional ou será uma forma cruel de controlar a população mundial?
Uma coisa é absolutamente certa, sem a produção de alimentos, em outras áreas além das temperadas, não haverá a explosão populacional até 2050, boa parte dos habitantes do planeta, principalmente os mais carentes, perecerão de fome ou em consequência de guerras por alimentos. Não há multiplicação dos pães se não houver pão.
Voltemos ao presente, o que importa para o Brasil é o “aqui e agora”. Creio que devemos abandonar imediatamente os debates e contestações das campanhas promovidas pela União Europeia contra o nosso Agro, por se tratar de provocações diversionistas. Na minha opinião devemos seguir, sem perda de tempo, o precioso conselho do professor Shenggen Fan quando recomendou, usando a China como paradigma, que o Brasil invista num trabalho de marketing para garantir aos consumidores do mundo a sustentabilidade do que produz. Tal ação deve ser deslanchada sem olhar para os lados ou atentar às críticas. Afinal, ao longo dos anos, ficou patente que uma mentira repetida mil vezes se torna verdade. Imaginemos agora uma verdade repetida milhares de vezes.
Gil Reis
Consultor em Agronegócio
