Alguns alunos, de uma escola que eu havia trabalhado, estiveram comigo numa mesma missão designada por seu professor de literatura: saber a diferença entre poema e poesia. Então me perguntaram se podiam me entrevistar, pois eles sabiam que eu era escritor e membro da ABARCLE.
– Pois bem, disse eu. Será um prazer ter essa excelente conversa com vocês, mas quero lhes dizer que vocês perderam uma grande oportunidade de aprender sobre isso e muito mais.
- Onde? Perguntou um dos alunos.
- Sábado passado, no Hotel Samauma, no Grande Encontro Cultural, promovido pela Academia Barcarenense de Letras.
Disse-lhes que o professor deles havia falhado com eles por não os terem levado ao grande encontro e com isso, perderam muitas coisas importantes, inclusive a oficina ministrada pelo escritor e poeta contemporâneo Lú Moraes, o qual teria como foco principal, fazer o publico ali presente entender a diferença entre poema e poesia para então entender o texto poético.
Disse a eles: – Vamos entender que o evento ocorreu no Hotel Samauma, que fica às margens da Praia do Caripi, um local que por si só e rico em poesia e belas imagens, o qual já convidava o público para essa fantástica experiência, pois o clima era propício para tal evento: Tarde, sol, praia e poesia.
Desta forma, comecei a falar sobre a oficina de Lú Moraes que começou fazendo a distinção entre Poema e Poesia (Conceitos deturpados há décadas por muitos que acham que se trata da mesma coisa) Eu poderia até dizer que seria a mesma coisa se a colocássemos no mesmo balaio onde tudo é arte, ou até mesmo dizer que os dois são um, assim como são Deus, Jesus Cristo e o Espírito Santo, mas um em propósito, seres diferentes com um único propósito, coexistindo um no outro.
Lú começa citando o poema “O SEGREDO” de Henriqueta Lisbôa, dizendo que após lê-lo, muitas coisas aconteceram em sua vida artística. Com um tom ameno e afagador, o poeta foi prendendo a atenção do público que o olhava cheio d surpresa e curiosidade, demonstrando o desejo de ver o que viria na próxima página, ou no próximo slide, fosse como todos estivessem compondo um belo poema permeado de poesia.
Tudo era propício a um grande espetáculo. Imaginem! Se o colecionador de Pedras, Lú Moraes as coleciona nas Feiras Públicas, ônibus, Ruas e etc. imaginem o que ele estaria vendo ali naquele local repleto de pedras preciosas, tais como: Os olhares cheios de diferentes sentimentos do público, os excelente e surpreendentes quadros de Hélio Santos, como também os olhares atentos dos escritores Fernado Jares, Jorge Maia, Aldenora Cravo e Gabriela Furtado. Aah! Tudo indo bem, como se o universo conspirasse a favor de Lú Moraes e todos ali presentes.
Chegou o momento que Lú deixou o público boquiaberto ao colocar algumas imagens de propagandas conhecidas de todos, mas que não passavam de meros comerciais, mas que após a explanação de Lú já não eram vistas como antes foram.
PINHO SOL, Mata mais de 99% das bactérias, o resto morre de solidão, e aí vinha a pergunta; Onde está a poesia?
AÇUCAR: Mude a sua embalagem. Lú mostrava a imagem de um saco de açúcar com a forma de uma barriga gorda. E aí a pergunta: Onde está a poesia? Muitos achavam que estava no formato da barriga, não estava, mas sim no dedo (implícito na imagem) que fizera o umbigo, citando, logo depois, O DEDO DE DEUS, obra de Miquelangelo. Entre uma e outra imagem Lú foi mostrando a poesia inserida em cada uma delas, algo que levou o público à boa risada e satisfação, sem dizer em vários poetas citados durante a oficina.
Palavras e imagens se fundem num contexto em que o dizer se torna o objeto principal dessas duas personagens. Sendo uma imagem parte de um processo de comunicação, podemos dizer seguramente que uma imagem é uma representação, ou seja, é uma forma de comunicar a outrem, através de uma mediação, aquilo que nós vemos; ou de receber de outros aquilo que eles veem, ou seja, pensam, concebem, imaginam.
Todos os escritores são artistas, e eu como escritor, me sinto no mesmo patamar que muitos artistas das belas artes, que não deixam de ser, também, escritores, os quais falam por meio de suas imagens como: Pinturas ou fotografias e conseguem nos transportar daqui para outro lugar.
Assim como faz, Lú Moraes, e outros artistas que pegam aquilo que vemos todos os dias e o transformam em fora do comum como John Updike olhou para os pássaros em fios elétricos e os chamou de “pontuação ” em um texto invisível, ou Janette Winterson que viu colunas de luz do sol entrando na estação de trem através de seus vitrais e disse: Tropeçar em lajes de sol do tamanho de cidades e Joyce Cary disse que uma manhã fria com gelo na grama era como um luar congelado.
Cada artista torna o mundo só dele e assim ele consegue elevar o mundo como a nós também, nos trazendo uma visão maior, pois a arte é a forma de individualismo que o mundo já conheceu (Oscar Wilde) e somente pela arte é que podemos sair de nós mesmos e conhecer a visão do outro sobre o universo. Muitos artistas como Lú Moraes, John Updike, Janette Winterson, Braulino Magno, Hélio Santos, entre outros, nos dão essa visão porque eles se dão para nós pelas palavras e pelas imagens e nos fazendo sentir aquilo que em nós é indescritível. Esse é o valor do artista que pelo seu talento, agonias, energia e visões nos fazem sentir o nosso melhor. E agradeço a eles por dar a nós a oportunidade de homenageá-los por meio de suas artes, num casamento de palavras e imagens.
Os alunos me olharam atônitos e perguntaram: Quando será o próximo?
PARA AMAR TODOS OS ARTISTAS, COMO TAMBÉM LÚ MORAES.
Um barco à vela
Velando solitariamente
a solidão do mar.
(Jorge A. M. Maia)
Andorinha no fio
Escutou um segredo
Foi à torre da Igreja.
Cochichou com o sino.
E o sino bem alto
delém-dem
delém-dem
delém-dem
delém-dem!
Toda a cidade
Ficou sabendo.
(Henriqueta Lisboa)