Tenho em família, irmão mais que fraterno, um amigo. Em cuida de sua família, um admirável vitorioso. A tal Covid, quase o levou, mas duro sobreviveu até para melhor. Era meio gordo tal qual rolha de poço, mas herdou do mal, corpo de galã de filme cinemascope. Era bem mais novo que eu, mas como velhice faz com que tudo se pareça, não sei se pouco envelheci ou se foi ele que mais amadurou.
O que muito nos diferencia é o comportamento social, público e político. Em sua companhia, só quem lhe agrada e principalmente apenas aqueles que falam o que ele gosta de ouvir.
Por mais de meio século, busquei chamar-lhe a atenção para isso. Acreditava mesmo ser errado, porém agora sinto até meio acerto dele em assim proceder. Afinal, sua vida é de ímpar tranquilidade e nenhum rouco clamor de atitudes ou manifestações que possam incomodar à alguém nunca lhe chegam. Ainda que não seja muito calmo, à sua volta é uma calmaria invejável ao descobridor Cabral.
Éramos onze irmãos. Eu logo o segundo, seguindo a uma irmã e ano após, outra irmã.
A criação, educação e escola do lar, na base do que “o que não se aprende em casa o mundo ensina”, foi melhor de três em princípio. Nós, a trinca inaugural nascida em período de guerra, recebemos educação bem de acordo à época e costumes. Éramos corrigidos além das reprimendas e constantes castigos, com alguns tabefes e palmadas mesmo; a bunda que aguentasse. Talvez, até por isso, crescidos, nunca mais toleramos quem nelas encostasse. Tão entendendo?
Apanhávamos dia sim e outro também… e quanto mais acontecia, mais nos aproximávamos e mais amávamos nossa mãe. E pai, que jamais encostou a mão em filho algum apenas educava com o rigor do olhar.
O quarto filho, nascido em mês e ano de guerra finda, quase nada apanhou e após ele ninguém mais sentiu a força do braço materno.
Jamais direi que ficaram estragados, isso nunca, mas que a vida a eles proporcionada os tornou mais mansos e acomodados, é verdade.
Quanto a mim, coitado d’eu, como dizem os mineiros, nove anos (9), dez (10) a completar num certo dia 12, colégio interno da Fundação Getúlio Vargas, na distante Nova Friburgo. Aulas começando dia 4, não houve acordo que removesse mãe que eu atrasasse ida para “aniversariar” em casa. Tinha tempo e horário a honrar e cumprir.
Entregou-me a uma aeromoça bonita de um velho DC-3, da Nacional Linhas Aéreas, e sozinho segui para a tal de Friburgo. Um conhecido, a mim estranho, pegou-me no Santos Dumont (Rio), atravessamos a Niterói num barco doido que nunca eu andara, e tacou-me numa merda de ônibus que dizia ser 1001. Só podia…
Estrada de terra batida, telefone não havia, correios, telegrama cinco dias, carta quinze, com possível maior demora. Me senti abandonado, ou como diria o Lula nascido 4 anos mais tarde, tava “fudido”.
Naquele educandário, só alunos de médias maiores. Se bolsistas, consideravam apenas os CDFs (cús de ferro) de cada escola de todo o Brasil. Repetir um ano, nem pensar, seria excluído numa boa.
Acredito que, então era e foi o único estabelecimento de ensino no país, para o qual os discentes não, mas docentes prestavam exames, tal qual um vestibular.
O hino de nossa escola bem dizia:- “a pátria a escola o lar a fé, padrões unidos…do futuro um campo de batalha faremos, para vencer e trinfar” …
E para malvadeza maior, férias, casa e família, doravante, só a cada 6 meses.
E foi assim por quase dez anos… Sob intensa vigília, pela proximidade, de mesas e quartos comuns, aprendi a cultivar o respeito a honra e a tratar a tudo dentro de justas razões.
Mãe sabia o que fazia. Em casa, a severa criação, aprendendo a dizer senhor e senhora. Na vida, abertura para, como previa, o mundo ensinasse.
E o tal mundo, bateu bem mais que apanhei em casa. De cara ensinou que não somos absolutamente aquilo que queremos e pensamos sermos para os outros. E mais, a opinião de quem muito nos gosta ou mesmo admira, nem sempre ou quase nunca é tão correta, pela influência da ótica de boa vontade ou ainda o amor dedicado a nós.
O mais sério foi perceber que a nosso redor, por aqueles que nos cercam, todo agrado gratuito precedia intenção não exposta e que acabaria de alguma forma, por nos custar alguma dor ou caro.
Após passar por tumultuados movimentos estudantis, saí daquele tempo homem feito. Virgindade, por milagre, com parceira compreensiva, se fora cedo, “cedíssimo”, agora digo. Entretanto, a minha época nessa chegada próxima aos 20, já considerados velhos para displicências maiores, mas novos para entrar em conversas de adultos.
Uma formação de vida, talvez hoje vista até como um tanto cruel, mas homem era homem e tinha que ser homem, mulher era mulher e o tinha que ser. Nada a ver com sexo, mas com o comportamento.
Os tempos como os homens e mulheres eram outros…
Ainda mais que logo em seguida, vieram Elvis Presley, Beatles, Mao Tse Sung, Stalin, Secos e Molhados, Brasil eu te amo, CUT’s, CGT’s, PT e Lula. Todos trazendo consigo monopólios de verdades e intenções. Ah sim, ia me esquecendo, atrasado, arrombando portas, dito “bolsonarismo” que já procurei, mas ninguém sabe explicar o que seja. Me parecendo mais uma vontade de boa quantidade de gente e menos próprio do dito.
No fundo todos muito parecendo como o meu citado irmão, escutando e vez dando apenas àqueles que os adulam ou agradam. Criam mesmo uma realidade que é só deles. Seus melhores conselheiros são os espelhos aos quais sempre perguntam se alguém manda mais que eles.
Como complicador, destes, muitos diferentes de mim, chegaram a governos e comandos, levando junto hábitos e costumes adquiridos, sem os chinelos maternos. Pressionados pelo mundo em redor da vida com acontecimentos empurrados por desorientados ventos de rebeldias. Ventos sem os necessários educadores para que quando em poderes pudessem se tornar verdadeiros estadistas.
O mundo se lhes apequena, atentando apenas aos que lhe são próximos e simpáticos, que proporcionam uma ideia de comando. E bem por esta falsa visão de mandar e não administrar, o Estado brasileiro tem se dissolvido perdendo o que lhe é mais caro, a sociedade civil.
Toda uma surda onda em sentido contrário se alevanta. Sem face própria, mas extremamente sentida. Assim tudo se perde, pois jamais haverá diálogo possível a multidões sem rosto.
Muita coisa errada em dias de hoje, excessos em liberdades políticas, gerenciais e administrativas, vivendo uma inexistente realidade que tem tumultuado a Nação.
Um presidente preside e responsavelmente nomeia aqueles que haverão de executar caminhos a aquilo que constrói a sociedade…não devendo nunca cederem a tentações de sonhadas realidades.
Não sei se nosso Presidente Luiz Inacio recebeu correções dolorosas ao corpo na infância e juventude, mas é de meu conhecimento que “o mundo aqui fora” lhe deu muitas porradas. Talvez por isso esteja notando e confiando apenas naqueles que sem muito preparo ou capacidade, o estão afagando interesseiramente com falsas informações e verdades.
E com sua inocente ajuda, produzindo castigos à uma Nação a qual pouco ou nada ajudaram a construir.
Realidade imaginada nacionalmente é que em filhos de Garanhuns batem na cabeça, mandando para São Paulo, para serem políticos, violências maternas na bunda nunca…
Macapá, 20/10/2024
Jose Altino Machado