A bandeira de São Paulo traz a inscrição latina non dvcor dvco, que significa “não sou conduzido, mas conduzo”. Em democracia, isso deveria estar cunhado na alma de cada cidadão. Mas, na nossa cultura, agimos como súditos, vassalos, dependentes, tutelados, esquecendo que somos cidadãos, pagadores de impostos, eleitores. Quem escolhe e sustenta deputados, senadores, vereadores, prefeitos, governador, presidente, é o povo. Por isso cada um de nós é origem do poder. Por nós, povo, é que fizeram uma Constituição, para submeter o estado a nós, e nos submetermos todos as leis feitas com base na Lei Maior. Nós, o povo, não somos uma massa uniforme; cada um de nós é uma pessoa para a qual até Deus permitiu o poder do arbítrio. As leis que nos desencorajam a cometer crimes, são as mesmas que nos garantem a vida, a propriedade, as liberdades de ir e vir, de reunião, de expressão, de opinião. Mas, com a cultura da vassalagem, muitos de nós acham natural que alguma autoridade decida o que podemos e o que não devemos dizer.
Lula e Moraes, na diplomação, defenderam uma liberdade restrita ao que eles julgarem ser a verdade. Precisou de uma eleição para que pelo menos metade da Nação despertasse na defesa da Constituição e das liberdades. O devido processo legal foi violentado há três anos, sob silêncio da mídia, do Senado, da OAB. Mas principalmente do povo, para quem existe o estado. Durante a Copa no Catar, percebeu-se o quanto é conveniente para os que se apropriaram das instituições do estado, a alienação pelo futebol. Um gol do time preferido serve para não se perceber omissão no Senado, ou ativismo no Supremo. E os senhores do patrimonialismo – que alguns chamam de mecanismo – vão pondo em prática, passo a passo, a volta à apropriação do estado e aos privilégios e benesses com poder aquisitivo, ante o silêncio dos verdadeiros senhores, o povo.
A tirania é viciante para os tiranos. A vontade de mandar aumenta a cada dia na razão direta da vontade de calar a crítica, as vozes que alertam sobre o avanço do totalitarismo. Vão repetindo os discursos sobre democracia e liberdade e quem está viciado em ser vassalo aceita, porque é cômodo. É mais fácil ser conduzido que conduzir. O antídoto para isso é popularizar a Constituição como bíblia da cidadania. Eliminaria a intermediação de intérpretes, que acabam sucumbindo à tentação de serem donos e condutores da lei maior.