Nossa reflexão de hoje é sobre o conceito filosófico de dualidade, de situação e oposição, tão comum e presente nas disputas eleitorais que vivenciamos a cada período de dois anos em nosso amado País.
Dois lados, duas circunstâncias, duas posições que sempre se apresentam na vida do sujeito pensante e o força a escolher um em detrimento de outro.
O termo “dualidade” refere-se à coexistência ou contraste entre duas características, conceitos ou forças opostas. Essa ideia é frequentemente explorada em várias áreas do conhecimento, como filosofia, psicologia, literatura, teologia e ciência, para descrever a tensão entre elementos como bem e mal, luz e escuridão, razão e emoção, corpo e mente, entre outros.
Essas dualidades podem ser vistas como complementares, onde cada lado depende do outro para existir, ou como forças em conflito, onde uma tende a predominar sobre a outra. A compreensão e a aceitação das dualidades são muitas vezes vistas como essenciais para o equilíbrio e a harmonia na vida e no pensamento de cada ser.
Há, inclusive quem defenda essa coexistência dual como codependentes, tipo, é preciso a doença para se valorizar a saúde, é preciso a fome para entender a gulodice, é necessário chorar para se deliciar do sorriso. Claro, respeitando as devidas proporções e circuntâncias.
Outra vertente dual versa sobre o conceito filosófico do ter em detrimento do ser. Um é melhor que o outro, um se opõe ao outro, e, por aí seguem as dualidades.
Na década de 1994 conheci, aqui em Macapá, um Movimento religioso, nascido na Igreja Católica mas presente no Diálogo e na vida comum em mais de duzentas Nações, vivendo desde a segunda grande guerra de 1945 a radicalidade do Evangelho, do Ecumenismo em plena Guerra Fria entre os blocos capitalistas e socialistas.
A Fundadora desse Movimento, que a Igreja Católica aprovou com o Nome de Obra de Maria, foi uma jovem italiana da cidade de Trento, Norte da Itália chamada Chiara Lubich.
Essa jovem interrompeu seus estudos acadêmicos por causa da Guerra mas foi consagrada Doutora Honoris Causa em inúmeras universidades no Ocidente e no Oriente do Planeta Terra. Sua visão sobre a dualidade foi de aniquilá-la. A radicalidade dessa jovem de pouco mais de vinte anos, quando entendeu que não existem dualidades, não existem dois caminhos, mas apenas O Caminho: Deus Amor e sua expressão humana foi Jesus, o Cristo de Deus – Amor. Essa foi a descoberta dessa jovem.
Para Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, não haviam dois caminhos. Sua tese era totalmente nova! Ela enfatizou durante toda sua vida, levando centenas de milhares de pessoas a seguir pelo mesmo caminho- o caminho da Unidade. Chiara ensinou e viveu a centralidade do amor como caminho único para a vida cristã. Indo diametralmente contrária à filosofia dualista, Chiara Lubich entendeu e propôs a perspectiva dela de que, ao invés de ver a vida em termos de dualidades, como bem e mal, devemos focar em seguir um único caminho: o de Jesus, que é o Amor.
Para Lubich, o amor de Cristo não é apenas uma escolha entre alternativas morais, mas uma vocação absoluta. O conceito de que não existem “dois caminhos” sublinha a ideia de que a vida cristã não se trata de uma luta constante entre forças opostas, mas de uma entrega total ao amor divino, que guia todas as ações e decisões. Se nos debruçarmos nos Evangelhos do Novo Testamento, ou seja, da segunda parte da Bíblia Sagrada, veremos escrito pelos testemunhas de Jesus que Ele não via diferença entre Judeus ou Gregos, Romanos ou Escravos, Homem ou Mulher, velho ou criança, isso tudo numa sociedade antiga, do século I que era extremamente dual, rico ou pobre, livre ou escravo, vencedor ou perdedor etc., Jesus plantou a semente de Deus como Pai, Abá, sem censura, sem protocolos, sem dualidades. Historicamente falando, Jesus foi condenado pelo Sistema da Época justamente por ser considerado um perigo, um contraventor das dualidades postas e acabadas.
No início da contagem dos tempos no Ocidente do Mundo, lá, no longíncuo Século I, o Império Romano era o vencedor e o Cristo – semente do Cristianismo era o perdedor. O tempo passou, o Império Romano foi saindo de cena e entrando para os anais da história clássica e o Cristianismo saiu da ilegalidade, ganhou credibilidade e, está entre nós em pleno Século XXI, em tempos modernos, onde as inteligências artificiais imitam a mente humana, o caminho dual ainda persiste mas o caminho da Unidade, do Deus – Amor de Chiara Lubich também caminha e há mais de meio século levanta sua bandeira: não existem dois caminhos. Existe um único caminho: o Amor.
Essa visão desafia a ideia comum de dualidade, propondo que o verdadeiro caminho cristão é singular e unificado, centrado na prática do amor como ensinamento de Jesus. É um chamado à unidade e à superação das divisões interiores e exteriores através do amor incondicional.
No entanto, é preciso ponderar que nem no mundo antigo e nem hoje, no mundo moderno, é fácil seguir esse caminho único, ou caminho do meio para outros espiritualistas, que vou esclarecer em outro artigo. O desafio do amor crístico nos tempos atuais se faz presente.
O desafio de viver o amor crístico nos tempos atuais é profundo e multifacetado. Em um mundo dual marcado por divisões, conflitos, incertezas e um ritmo acelerado de vida, seguir o exemplo de amor incondicional de Cristo pode ser desafiador. Aqui estão algumas das principais dificuldades: e como estamos falando de dualidades, vou apresenta-las em duplas: o individualismo e o egoísmo, onde o canto da sereia é o sucesso individual, famílias sem filhos, riqueza sem legado; a solução para evitar tal dualidade é cultivar uma nova humanidade, uma nova mentalidade de serviço e de empatia; ser para o outro mesmo que para isso exija sacrifícios pessoais como o amor da mãe pelo filho, do esposo pela esposa, do filho pelo ancião.
Outra dualidade de nossos tempos são as desigualdades sociais e injustiças que nos desafiam a nos endurecer ou a nos sentir impotentes ou indiferentes, a solução para as desigualdades e injustiças socias seria o amor crístico, que nos chama a sermos instrumentos de justiça e paz. Isso envolve defender os oprimidos, combater as injustiças e trabalhar por uma sociedade mais equitativa, sempre com base no respeito e na dignidade humana.
Ceticismo e Perda de Fé: Outra dualidade de nosso tempo, onde a vida secular quer sufocar o mundo religioso e a ciência suplantar a religião. O secularismo e o ceticismo crescente podem enfraquecer a fé e a prática religiosa, tornando difícil viver de acordo com os ensinamentos cristãos. A solução para tal dualidade seria exatamente duas atitudes: Renovar e fortalecer a fé por meio da oração, da reflexão e da comunhão com outros crentes. Testemunhar o amor de Cristo através de ações concretas pode inspirar e reavivar a fé, tanto em nós mesmos como nos demais utilizando a rede mundial de comunicação, a internet que diminui distâncias e aponta caminhos de paz e de amor.
Outra dualidade: Conflitos e Intolerância: O mundo está repleto de divisões, sejam elas políticas, religiosas ou culturais. A intolerância e o ódio são frequentemente alimentados por essas divisões. Atualmente existem mais de trinta conflitos ocorrendo pelo mundo, sem falar nos conflitos urbanos, tribais sempre marcados pela dualidade do bem e do mal, do fraco e do forte, do pobre e do rico, do certo e do errado.
O amor crístico nos convida a sermos pacificadores, buscando diálogo, compreensão e reconciliação em vez de exacerbar conflitos. Isso envolve perdoar, mesmo quando parece impossível, e amar os inimigos, como Cristo ensinou.
Mais dois desafios: Falta de Tempo e Distrações: A vida moderna, com sua velocidade e constante bombardeio de informações e entretenimento, pode nos distrair do essencial e nos afastar da espiritualidade e da prática do amor. A Solução para essa dualidade seria priorizar momentos de silêncio, reflexão e conexão espiritual. Praticar a presença de Deus no cotidiano, transformando cada ato, por menor que seja, em um gesto de amor.
E para concluir temos também nos dias de ontem e principalmente de hoje a fragilidade das Relações Humanas: Aqui o desafio que a ciência das emoções já ensina há mais de três séculos: As relações humanas muitas vezes são frágeis, marcadas por mal-entendidos, ressentimentos e rupturas. A solução é de um caminho apenas, o caminho do Amor: Investir no perdão, na escuta ativa e na paciência. O amor crístico nos chama a construir e manter relacionamentos baseados na verdade, respeito e no perdão contínuo, o perdão de Jesus ensinado ao apóstolo Pedro: “perdoarás teu irmão setenta vezes sete vezes”. Isso aparece no Evangelho de Mateus, capítulo 18, nos versículos 21-23
O amor crístico não é apenas um sentimento, mas uma ação. Ele exige de nós uma entrega diária, uma escolha constante de viver de acordo com os princípios de amor, misericórdia e compaixão que Jesus ensinou. Nos tempos atuais, o maior desafio talvez seja ser uma presença de amor em um mundo que frequentemente carece dele, mas é exatamente isso que torna esse chamado tão vital e transformador.
“A decisão é tua, a decisão é tua. São muitos os convidados, são muitos os convidados, quase ninguém tem tempo, quase ninguém tem tempo” Trecho de música do Padre Zezinho – SCJ.
DUALIDADES

Professora, historiadora, coach practitioner em PNL, neuropsicopedagoga
clínica e institucional, especialista em gestão pública.