As caixas rufaram até ao amanhecer do dia na Quarta-feira da Murta, parte da programação do Ciclo do Marabaixo, entre a noite de quarta-feira, 29, e a manhã desta quinta-feira, 30. As celebrações aconteceram nos barracões do Pavão, no bairro Jesus de Nazaré e Raimundo Ladislau, no bairro do Laguinho, na zona urbana de Macapá.
Segundo a tradição, a data faz referência à murta, erva aromática que serve para enfeitar os mastros. De folhas pequenas, a planta traz a simbologia mística de limpeza espiritual e o ramo que a pomba do Divino Espírito Santo trazia no bico após o dilúvio relatado no Velho Testamento da Bíblia Sagrada.
Ambos os grupos saíram em cortejo pelas ruas dos bairros onde estão sediados e visitaram casas de famílias tradicionais. O grupo Raimundo Ladislau fez uma entrada na área da frente da igreja São Benedito, como forma de reverência. Depois dos cortejos, as caixas rufaram e a tradicional gengibirra (bebida ritual) e o caldo foram servidos.
Grupos de marabaixo de comunidades como Curiaú (Macapá) e Mazagão Velho (Mazagão) foram convidados para dançar nos barracões. Mas quem “roubou a cena” foram as senhoras Josefa Lina da Silva, a Tia Zefa, 103 anos, e Benedita Guilhermina Ramos, a Tia Biló, 94 anos, como é mais conhecida. Elas puxaram os “ladrões” (versos musicados), do grupo do Pavão e Raimundo Ladislau, respectivamente.
“É muita emoção ver esse verdadeiro encontro de gerações dentro do Marabaixo”, resumiu Laura Ramos, festeira e neta de Tia Biló, fazendo referência à grande presença de jovens e crianças nas rodas de marabaixo.
“A cada evento que realizamos dentro do Ciclo do Marabaixo, temos a certeza da missão cumprida e da colaboração com nossa maior identidade cultural”, endossa Naíra de Paula Sena, festeira deste ano no Marabaixo do Pavão.
O Marabaixo da Murta vai até ao amanhecer. É quando são erguidos os mastros – retirados uma semana antes nas matas do Curiaú – que irão carregar as bandeiras do Divino Espírito Santo e Santíssima Trindade. A programação prossegue nesta quinta-feira, 30, a partir das 18h, com o início das novenas em honra ao Divino Espírito Santo, no grupo Marabaixo do Pavão.
Tradição
O marabaixo foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em novembro de 2018. Para a realização do ciclo deste ano, o Governo do Amapá investiu R$ 130 mil, divididos igualmente entre os grupos realizadores.
Marcados pelo culto ao Divino Espírito Santo e à Santíssima Trindade, os festejos seguem até o chamado Domingo do Senhor, primeiro domingo após a celebração de Corpus Christi – este ano, dia 23 de junho. Na extensa programação, ainda constam missas, ladainhas, retirada dos mastros pelos grupos, bailes e jantares e demais rituais que se encerram com as derrubadas dos mastros.