O câncer de ovário representa cerca de 3% de todos os canceres femininos, mas responde por uma das maiores taxas de mortalidade entre os tumores ginecológicos. Isso se deve, principalmente, ao diagnostico tardio: estima-se que mais de 70% dos casos sejam identificados já em estágios avançados, quando a doença se disseminou além da pelve.
Clinicamente, trata-se de um tumor silencioso. Os sintomas iniciais são inespecíficos: distensão abdominal, dor pélvica ou lombar, aumento do volume abdominal, alterações urinarias e digestivas sinais que muitas vezes são atribuídos a questões benignas ou transitórias, especialmente em mulheres na pós-menopausa.
A inexistência de um método eficaz de rastreamento para a população geral e um dos grandes desafios no enfrentamento dessa neoplasia. Diferente do câncer de colo uterino (rastreável via Papanicolau) ou do câncer de mama (mamografia), não ha evidencia robusta que justifique o uso rotineiro de exames como o CA-125 ou a ultrassonografia transvaginal como triagem em mulheres assintomáticas e de risco habitual.
No entanto, mulheres com histórico familiar de câncer de ovário ou de mama, especialmente em parentes de primeiro grau, merecem atenção especial. Nestes casos, e indicada a investigação genética para mutações nos genes BRCA1 e BRCA2. A identificação de tais mutações pode orientar condutas preventivas, como o acompanhamento intensivo ou, em casos selecionados, a cirurgia redutora de risco.
Embora a triagem populacional com CA-125 e ultrassonografia transvaginal não seja recomendada para mulheres de risco habitual, estudos demonstram que, em grupos de alto risco genético, estratégias de vigilância e a cirurgia profilática (como a salpingooforectomia redutora de risco) podem reduzir significativamente a mortalidade por câncer de ovário.
Dessa forma, diante da inespecificidade dos sintomas e da ausência de métodos eficazes de rastreamento em larga escala, reforça-se a importância da educação em saúde, do seguimento clinico individualizado e da investigação de história familiar. A identificação precoce de pacientes com risco aumentado permite intervenções preventivas que podem salvar vidas.
REFERÊNCIAS:
- NCCN Clinical Practice Guidelines in Oncology (NCCN Guidelines) Genetic/Familial High-Risk Assessment: Breast, Ovarian, and Pancreatic. Version 1.2024. https://www.nccn.org
- Jacobs IJ, et al. Ovarian cancer screening and mortality in the UK Collaborative Trial of Ovarian Cancer Screening (UKCTOCS): a randomised controlled trial. Lancet. 2016;387(10022):945956.
- Nelson HD, et al. Risk Assessment, Genetic Counseling, and Genetic Testing for BRCA-Related Cancer in Women: A Systematic Review to Update the U.S. Preventive Services Task Force Recommendation. JAMA. 2019;322(7):666685.