Olá, meus amigos! Hoje, na coluna Emdireito, vamos abordar um tema de extrema relevância para empregadores, gestores jurídicos e trabalhadores: o papel do compliance trabalhista, e como a responsabilidade do empregador sobre as relações de trabalho se conecta diretamente a um programa de integridade bem estruturado.
Com a multiplicação de normas — trabalhistas, previdenciárias, de terceirização — e o acirramento da jurisprudência, não basta “estar em conformidade no papel”: é necessário que a empresa demonstre na prática que adota controles, monitora riscos e responde aos desvios. O empregador que ignora essa realidade se expõe a passivos de grande monta — financeiros, legais e reputacionais.
O que é compliance trabalhista?
Compliance trabalhista pode ser entendido como um conjunto de medidas sistemáticas adotadas pelo empregador para garantir o cumprimento das normas relativas à contratação, execução do trabalho, segurança, jornada, remuneração e encerramento do vínculo, bem como das obrigações acessórias e à integridade nas relações internas.
Em outras palavras: não se trata apenas de “não fazer ilegalidades”, mas de construir processos, cultura e governança que evitem a ocorrência de irregularidades e minimizem os riscos de litígios e sanções.
A responsabilidade do empregador
- Responsabilidade direta
O empregador responde pelas obrigações decorrentes do contrato de trabalho — pagamento de salários, recolhimento de encargos, cumprimento de jornada etc. - Responsabilidade por atos de terceiros
O empregador também pode responder por atos praticados por seus empregados no exercício da função (art. 932, III, do Código Civil) e por obrigações de empresas contratadas ou terceirizadas, quando houver inadimplemento. - A conexão com o compliance
Quando o empregador adota um programa de compliance trabalhista eficaz, ele demonstra diligência e busca reduzir ou evitar riscos — o que pode atenuar consequências em eventuais litígios. Por outro lado, a ausência de controles internos ou canais de denúncia pode agravar a responsabilização.
A doutrina relata que “muito dificilmente uma empresa obtém êxito na redução e controle de riscos trabalhistas se não adotar modelo ético de conduta nas relações de trabalho”.
Aspectos centrais de um programa de compliance trabalhista eficaz
Para que o compliance trabalhista não seja apenas formalidade, ele deve contemplar pelo menos os seguintes elementos:
• Comprometimento visível da alta direção, com “tone at the top”.
• Mapeamento de riscos trabalhistas: atividades, terceirizações, histórico de passivos.
• Políticas, códigos de conduta e procedimentos internos que orientem condutas.
• Canais de denúncia seguros, sigilosos e com garantia de não retaliação.
• Investigações internas rápidas e eficientes quando surgem indícios de descumprimento.
• Monitoramento e auditoria periódica, com métricas de resultados.
• Cultura de integridade: treinamento, comunicação constante e participação de todos os níveis.
Um estudo recente destaca que o compliance trabalhista “é instrumento de efetivação dos princípios da função social do trabalho e da livre iniciativa”.
Exemplos práticos de riscos evitados pelo compliance trabalhista
• Empresa que terceiriza parte da produção, sem monitorar os prestadores: caso de inadimplemento em verbas trabalhistas que leva a responsabilidade subsidiária;
• Organização que não tem canal de denúncias e sofre com assédio moral repetido, resultando em altos custos com dano moral coletivo;
• Corporação que ignora jornada excessiva e não monitora horas extras, acarretando condenações e passivo acelerado.
Esses casos mostram que o custo de ignorar o compliance trabalhista pode superar — com folga — o investimento em boas práticas.
O impacto para empregados e para o mercado
Para os empregados, um programa efetivo representa valorização, segurança jurídica e ambiente de trabalho mais saudável. Estudos apontam que empresas com políticas claras de ética e conformidade têm menor rotatividade, maior engajamento e melhores indicadores de qualidade de vida no trabalho.
Para o mercado e investidores, a conformidade trabalhista reforça a reputação da empresa, diminui riscos de passivos e pode se traduzir em melhor acesso a crédito e contratos.
Desafios e tendências
• Integração do compliance trabalhista com a governança geral da empresa e com programas de ESG;
• Ampliação do compliance para a cadeia de fornecimento e contratados, evitando que riscos transbordem para a empresa principal;
• Uso da tecnologia para monitorar indicadores trabalhistas, relatórios de horas, terceirizações, auditorias de RH;
• Formação contínua de cultura ética — não basta instalar regras, é preciso vivê-las;
• Expectativa crescente de que empresas pequenas e médias também adotem práticas robustas, mesmo com estrutura mais modesta.
Empregadores, gestores jurídicos e profissionais de compliance: o momento exige que deixemos de ver o compliance trabalhista como mero custo ou exigência legal. Ele é ferramenta estratégica, capaz de proteger a empresa, valorizar o trabalho e construir credibilidade.
No contexto atual, em que a jurisprudência e a fiscalização evoluem constantemente, não é suficiente “seguir a lei”. Precisamos demonstrar, com políticas, práticas e cultura, que somos empresas confiáveis.
Até domingo que vem, meus amigos! Para continuarmos essas reflexões sobre direito, integridade e gestão, me acompanhem nas redes sociais: @andrelobatoemdireito.

