Que o Ano Novo seja realmente novo.
É muito comum a realidade copiar a ficção, notadamente, a ficção científica. Como leitor do gênero durante muito tempo acreditei que os autores previam o futuro. Com o decorrer da vida e um exame mais comprometido com os textos que lia e a comparação com a realidade de hoje cheguei à conclusão que estava ‘redondamente’ enganado, os autores de ficção científica criam o futuro.
Caro leitor caso observe as inovações tecnológicas de hoje e for afeito à leitura de ficção de todos os gêneros chegará à conclusão que a mor parte das tecnologias em uso, se não a totalidade, nasceram primeiro na mente de um autor de ficção científica. Com a chegada de novos anos nos aproximamos de uma nova realidade já prevista pelos autores de ficção cientifica. Assim vale a pena buscar no passado as perspectivas do futuro. É o que faço agora reeditando um artigo publicado no final de 2022.
Cada vez que o calendário gregoriano muda de ano sempre esperamos que o novo ano seja diferente do velho. A maioria trata o ano entrante como uma mulher bonita que precisa ser conquistada, mesmo que para isso se precise tentar iludi-la com promessas vãs e incumpríveis. Espero do fundo do coração que desta feita no final do próximo ano possamos olhar para trás e verificarmos que realmente mudamos e construímos um excelente ano. Vou deixar a descrição do Ano Novo sob a responsabilidade de brilhantes cronistas. Estela Fiorin que publicou sua Crônica, em 02/01/2019, no blog da Maysa Abrão, que a faz de modo brilhante e que transcrevo trechos:
“Faltava dez para meia noite. Os fogos de artifício já brilhavam no céu há algumas horas. Pobres gatos e cachorros, idosos e gestantes: os sustos, quando sozinhos, são mais horripilantes. Pobres dos solitários, que não tiveram com quem compartilhar tamanha grandiosidade de uma virada de ano. Li, qualquer dia desses, em alguma das minhas redes sociais, que o Ano Novo é isso: dar uma nova chance. Chance de perdoar, de fazer melhor, de fazer mais, dar mais, amar mais, de parar com todos os ‘e se’ que soltamos para tantas coisas e aproveitar o que quer que venha a acontecer. Mas o que é isso, se não uma segunda-feira?
Nós sempre estamos começando outra vez, afinal. Uma dieta, um exercício, um livro, uma receita. E experimentando, experimentando, melhorando, aguçando, degustando, salgando ou adoçando alguma coisa. E na quarta-feira? Tudo igual, tudo a mesma coisa do último domingo em que decidimos começar diferente no dia seguinte. E, de segundas em segundas, todos os novos trezentos e sessenta e cinco dias de um Ano Novo, começamos e terminamos ciclos e ciclos. Fases e fases. E de imprevistos em imprevistos nós continuamos vivendo: ultrapassando, vencendo, perdendo, mas sempre atingindo [objetivos] e enfrentando [obstáculos].
Talvez, muito talvez, o primeiro dia de um ano impulsione mais facilmente. Talvez ele tenha mais força que o primeiro dia de uma semana, ou talvez seja o “primeiro” que tenha esse poder. ‘Começo’ e ‘primeiro’ acabam se complementando e modificando nosso raso sistema operacional contingente.
Meia-noite. Barulhento, afetuoso, cheio de abraços e desejos de… estamos em lua minguante, banimento, certo: desejos de que sejam afastados e banidos todos os sentimentos ruins, toda a maldade, toda a inveja, o desemprego, a falta de grana, os amores malsucedidos. Muitos abraços, muitos ‘Feliz Ano Novo!’, mais cerveja, mais funk. Pagode. Sertanejo. Risadas, bocejos, apertos de mão, cama. Mais um Ano Novo, mais uma prospecção de vida nova, mais uma noite de pouco sono. Ainda assim, tudo maravilhoso. Um amor no peito e um bem ao lado. E todos os sucessos de um ano incrível que acabou ficando para trás também.
Pode ser, e essa é a minha esperança, que percebamos que, assim como em cada dia em que acordamos vivos e com saúde, este dia não passe de mais uma oportunidade divina para recomeçarmos, continuarmos ou, porque não, finalizarmos ciclos. Descobrir coisas novas. Acertar mais, errar outras vezes, mas sempre arriscar. Porque o significado do ‘Novo’ é esse: ser, fazer, aceitar, começar ou terminar, tudo diferente.”
Já Luís Fernando Veríssimo, em 2012, na sua Crônica de Ano Novo na Revista Arara, com seu humor fino, aborda o tema de outra forma que, também, transcrevo trechos:
“Existem muitas superstições sobre a melhor maneira de entrar o Ano-Novo. Na nossa casa, por exemplo, nunca falta um prato de lentilha para ser consumido nos primeiros minutos do ano que começa. Dá sorte. Ouvi dizer que na Espanha, ao soar da meia-noite, deve-se comer uma uva para cada badalada do relógio. Este costume chegou à Bulgária mas, por uma falha na tradução, lá se come um melão para cada batida do relógio, e os hospitais ficam cheios no dia 1º. Na Suíça, comem o relógio.
Algumas crenças persistem através do tempo, desafiando toda lógica. Se o champanhe aberto à meia-noite não estourar e se tiver alguém na família chamado Edgar, é sinal de que a casa será arrasada por uma manada de elefantes e o champanhe está choco. Na Rússia, depois de brindarem o Ano-Novo com vodca, os convidados devem atirar suas taças contra a parede e depois ficar muito brabos porque não há mais copos na casa e atirar o anfitrião contra a parede. De qualquer maneira, a festa termina cedo.
Na Índia se a primeira criança que nascer no Ano-Novo tiver bigode, fumar de piteira e pedir para falar urgentemente com o Kofi Anan, é mau sinal. Na Polinésia, em certas tribos primitivas, o guerreiro mais audaz deve levar a virgem mais bonita até a boca do vulcão e atirá-la para a morte, como um sacrifício aos deuses. Mas a encosta do vulcão é comprida, os dois param para descansar um pouco e, quando chegam à boca do vulcão, estabelece-se o paradoxo: se o guerreiro era audaz, a moça não é mais virgem, se a moça ainda é virgem, o guerreiro não era audaz, e o sacrifício sempre fica para o ano que vem. Na Austrália, todos se atiram contra a parede.
Entrar o Ano-Novo de gravata-borboleta pode comprometer seriamente as relações entre o Oriente e o Ocidente. O primeiro animal que você encontrar na rua no Ano-Novo pode significar uma coisa. Cachorro é sorte. Gato é dinheiro. Rato é saúde. Um bando de hienas é azar, corra. Um cavalo roxo dançando o xaxado na calçada significa que você está bêbado. Vá dormir.”
O presente artigo, transcrevendo crônicas do passado elaboradas por brilhantes autores, é o presente com o qual resolvi brindar todos os meus leitores pela paciência de ler o que escrevo e a tolerância com todas as minhas ideias postas no papel. Assim desejo um Feliz e Próspero Ano Novo, muito sucesso e que os outros tenham com os meus leitores a mesma tolerância que eles têm comigo.
Agora um ensinamento para o ano que se inicia de um dos grandes empreendedores do século passado – “Se existe algum segredo para o sucesso, é a capacidade de obter o ponto de vista da outra pessoa e ver as coisas do ângulo dessa pessoa, bem como do seu próprio” – Henry Ford, 1863 a 1947, empreendedor e engenheiro mecânico estadunidense, fundador da Ford Motor Company.