Educar é, antes de tudo, um ato de coragem. Entre as exigências da vida moderna e os discursos libertários que confundem liberdade com ausência de autoridade, muitos pais e educadores se veem diante de uma encruzilhada: até onde permitir, quando intervir, como disciplinar? Essa dúvida, comum e legítima, precisa ser respondida com base no conhecimento sobre o desenvolvimento humano. E aqui a neuropsicopedagogia lança luz sobre uma realidade inegável: um cérebro imaturo não está pronto para administrar o peso da liberdade plena.
A criança não é um “mini-adulto”. Ela passa por fases evolutivas que vão da infância até a juventude, e só por volta dos 25 anos o cérebro atinge a sua maturidade estrutural e funcional completa. Antes disso, funções essenciais como o controle inibitório, o planejamento, a avaliação de riscos e a tomada de decisões ainda estão em construção. Oferecer a um ser em formação o pacote completo de liberdade e confiança, sem antes ter-lhe ensinado os limites, é como entregar a direção de um carro a quem ainda não sabe sequer andar de bicicleta.
Nesse cenário, a pergunta precisa mudar: a liberdade que estou dando é orientação ou abandono? A ausência de limites não é sinônimo de afeto; é desamparo. Amar é, sim, colocar fronteiras claras e, mais que isso, vigiá-las com firmeza e ternura. Como afirma a neuropsicopedagogia, um cérebro em desenvolvimento precisa de rotinas, segurança, modelos coerentes e consequências consistentes para formar conexões neurais saudáveis e desenvolver autocontrole.
A família é o primeiro núcleo educativo. É nela que se forma a base da personalidade, dos valores, da afetividade e da noção de responsabilidade. Os pais são guardiães da integridade emocional e comportamental de seus filhos. Não podem terceirizar para a escola, para a rua ou para as redes sociais aquilo que é de sua alçada: o dever de formar caráter. Isso não significa autoritarismo, mas sim autoridade amorosa, aquela que escuta, orienta e, sobretudo, assume a responsabilidade de dizer “não” quando necessário.
A escola, por sua vez, deve ser parceira no processo, reforçando os limites e valores éticos que possibilitem a convivência social e o respeito mútuo. Já as igrejas e demais comunidades de fé oferecem suporte espiritual e moral, contribuindo para o enraizamento de princípios sólidos, que transcendem modismos e oferecem sentido à vida.
Infelizmente, o que vemos hoje é um grande número de crianças e adolescentes desamparados emocionalmente e moralmente, cercados de aparente liberdade, mas solitários diante das próprias escolhas, pois não foram preparados para lidar com suas consequências. A confiança cega, sem acompanhamento, pode se transformar em negligência.
Ser pai, ser mãe, é ser sentinela. É entender que amor não é permissividade, é presença ativa. É dizer “sim” ao que constrói, e “não” ao que destrói, mesmo que isso cause lágrimas momentâneas. Afinal, educar é escolher o desconforto de hoje para evitar a tragédia de amanhã.
Concluímos com uma máxima simples, porém poderosa: quem planta, colhe. Se semearmos afeto com limites, colheremos adultos responsáveis. Se semearmos abandono disfarçado de liberdade, colheremos dor, desordem e arrependimento. Amar é cuidar. E cuidar é educar com firmeza, lucidez e esperança. Como diz a canção: “Campeão, vencedor, Deus dá asas, faz teu vôo!” Canção “Vencendo o impossível” de Jamily.
Liberdade ou Abandono?

Professora, historiadora, coach practitioner em PNL, neuropsicopedagoga
clínica e institucional, especialista em gestão pública.