O diabetes mellitus é uma doença crônica que afeta a forma como o corpo processa o açúcar no sangue (glicose). Além dos conhecidos impactos sobre os olhos, rins e coração, o diabetes também pode afetar o sistema musculoesquelético e os nervos periféricos. Esses efeitos muitas vezes passam despercebidos, mas podem causar dor, rigidez, formigamentos e limitações nos movimentos. Este texto visa esclarecer, de forma simples, como o diabetes pode comprometer as articulações, músculos, tendões e nervos.
Manifestações Osteoarticulares do Diabetes
Quiropatia Diabética (“mãos em prece”)
A quiropatia diabética se caracteriza por rigidez progressiva nas mãos. O paciente tem dificuldade em estender completamente os dedos, como se estivesse em posição de prece. Isso ocorre por espessamento dos tecidos ao redor das articulações e dos tendões, dificultando a movimentação.
Sinais comuns:
- Dificuldade de abrir os dedos totalmente;
- Dor leve ou sensação de rigidez nas mãos;
- Incapacidade de unir totalmente as palmas das mãos.
Contratura de Dupuytren
A contratura de Dupuytren é uma condição em que um ou mais dedos (geralmente o anelar ou o mínimo) vão ficando dobrados em direção à palma da mão. Isso ocorre por espessamento e encurtamento de um tecido fibroso (fáscia) que fica abaixo da pele.
É mais comum em:
- Pessoas com diabetes tipo 2;
- Homens acima dos 50 anos;
- Pessoas com histórico familiar da condição.
Síndrome do Túnel do Carpo
A síndrome do túnel do carpo é uma compressão do nervo mediano que passa pelo punho. Nos diabéticos, ela é mais frequente devido ao espessamento dos tecidos ao redor do nervo.
Sintomas:
- Dormência ou formigamento nos dedos (especialmente polegar, indicador e médio);
- Dor que piora à noite;
- Dificuldade de segurar objetos pequenos.
Ombro Congelado (Capsulite adesiva)
O ombro congelado, ou capsulite adesiva, causa dor e rigidez progressiva no ombro, dificultando movimentos simples como pentear o cabelo ou vestir uma camisa.
Fases da condição:
- Fase dolorosa – dor intensa e crescente;
- Fase de congelamento – limitação severa dos movimentos;
- Fase de recuperação – melhora gradual ao longo de meses.
Artropatia de Charcot
A artropatia de Charcot é uma complicação grave do diabetes, mais comum nos pés. Ocorre por perda da sensibilidade nos nervos, fazendo com que pequenos traumas passem despercebidos, o que leva à destruição progressiva das articulações.
Sinais de alerta:
- Pé inchado, quente e avermelhado;
- Mudança no formato do pé;
- Sensação de instabilidade ao caminhar.
É uma emergência médica e requer diagnóstico precoce para evitar deformidades permanentes.
Polineuropatia Diabética
A polineuropatia diabética é uma das complicações mais comuns do diabetes e afeta principalmente os nervos dos pés e das pernas. Com o tempo, a glicose elevada danifica os nervos periféricos, gerando uma série de sintomas desconfortáveis.
Sintomas típicos:
- Formigamento;
- Queimação;
- Sensação de choque;
- Dor tipo “agulhada” nos pés;
- Perda da sensibilidade (o que pode facilitar o surgimento de feridas graves sem que o paciente perceba).
O diagnóstico deve ser feito com base nos sintomas e confirmado, quando necessário, por testes neurológicos. O tratamento inclui controle rigoroso da glicose, uso de medicações para dor neuropática (como anticonvulsivantes e antidepressivos), e cuidados com os pés (higiene, hidratação e proteção).
Considerações sobre o Tratamento e Acompanhamento Multidisciplinar
O controle glicêmico é a peça-chave para prevenir ou retardar todas essas complicações musculoesqueléticas e neurológicas. Manter os níveis de glicose próximos do alvo evita lesões nos nervos, tendões e articulações, e melhora a qualidade de vida.
No entanto, nem sempre o controle é fácil. Em casos de diabetes descompensado ou com múltiplas complicações, o acompanhamento com endocrinologista e nutricionista torna-se fundamental. Esses profissionais ajudam a ajustar a medicação, orientar sobre alimentação e avaliar a necessidade de novas terapias.
Além disso, o reumatologista exerce um papel importante no diagnóstico diferencial. Muitas das manifestações descritas, como dor nas mãos, rigidez, ombro congelado e neuropatias, podem ocorrer também em doenças reumáticas inflamatórias, como artrite reumatoide, lúpus ou espondiloartrites. Saber distinguir essas condições é essencial para indicar o tratamento correto.
No caso da polineuropatia diabética, o tratamento pode ser conduzido tanto por neurologistas quanto por reumatologistas clínicos, que conhecem os medicamentos utilizados para dor neuropática e os cuidados necessários com os pés e os nervos.
Conclusão
O diabetes vai além do açúcar alto. Suas complicações podem afetar os movimentos, causar dor e alterar a qualidade de vida de forma silenciosa. Conhecer essas manifestações, buscar atendimento médico qualificado e manter o controle glicêmico são passos fundamentais para viver com mais saúde e liberdade. O olhar atento e multidisciplinar faz toda a diferença.