Para abordar quem de nós ou de nossas máscaras está se manifestando, se faz necessário uma análise básica sobre a diferença entre sentimento, pensamento, comportamento e emoção à luz de teorias da psicologia, psicanálise e do materialismo histórico, caro leitor, cara leitora, lhe convido a viajar comigo em algumas vertentes do conhecimento humano ao longo dos séculos sobre nossas partes emocionais, cognitivas, históricas e psíquicas para tentar compreender a ponta do iceberg da mente humana; vamos construir uma reflexão que também contemple as consequências das doenças psicossomáticas no contexto do século XXI.
Pra início de conversa vamos refletir sobre dois aspectos do homo sapiens, sapiens, ou seja, o ser humano que sabe que sabe, ser pensante reflexivo, reativo ou proativo. Estou falando do Sentimento e da Emoção.
Na psicologia, emoção é considerada uma resposta fisiológica imediata a estímulos internos ou externos. Segundo Paul Ekman, as emoções primárias (como medo, raiva, alegria) são universais e servem funções adaptativas, ajudando na sobrevivência. A emoção é algo que pode ser instintivo e momentâneo. E, segundo o mestre Paulo Barbosa, a emoção mora na célula, é memória orgânica e, por isso, tão difícil de acessar ou controlar, identificar quando emerge do mais profundo de nosso ser e em tempestade ou bonança, o território emocional é difícil de prever e de controlar.
Já o sentimento é mais subjetivo e duradouro, sendo a interpretação e processamento dessas emoções. Para teóricos como William James, o sentimento é a percepção consciente das alterações corporais que ocorrem em resposta às emoções. Na psicanálise, Freud via o sentimento como uma expressão de conteúdos do inconsciente, emergindo como resultado do conflito entre o id (desejos) e o superego (normas morais). Para Paulo Barbosa, o sentimento é o Ego contando história pra gente, é a nossa interpretação de fatos que fincaram memórias emocionais, e mais, para esse Terapeuta sentimento é o sentir mentido; quando mentimos pra nós mesmos deixando a realidade suportável.
O pensamento envolve a interpretação cognitiva e lógica da realidade. Jean Piaget, a quem estudo e sigo desde os anos de 1980, Biólogo Suiço que influenciou a educação infantil contemporânea, descreve o pensamento como parte do desenvolvimento cognitivo, sendo uma função complexa que envolve raciocínio, memória e solução de problemas. Na psicanálise, Freud destacou que pensamentos podem ser conscientes ou inconscientes, e o que expressamos externamente é muitas vezes resultado de conflitos internos. A abordagem freudiana está muito ligada ao inconsciente e ao nosso sistema primário da sexualidade orgânica e inorgânica.
Indo um pouco para a História como ciência que estuda o homem social em suas relações com o semelhante e a sociedade, vou buscar o materialismo histórico, onde o pensamento também é visto como influenciado pelas condições materiais e sociais. Karl Marx e Friedrich Engels destacaram que as ideias e ideologias são reflexos da estrutura econômica e social, sendo o pensamento moldado pela realidade de classe, trabalho e relações de produção.
Seguindo essa linha do funcionamento psíquico do ser humano. O comportamento é a ação visível e objetiva, fruto da interação entre emoções, pensamentos e sentimentos. A psicologia comportamental, como proposto por Skinner, argumenta que o comportamento é moldado por reforços e punições no ambiente, sendo menos influenciado por processos internos (emoção e pensamento) do que pelos fatores externos.
Por outro lado, a psicanálise sugere que o comportamento é uma manifestação dos desejos inconscientes. O que fazemos pode ser um resultado direto de impulsos reprimidos, conforme Freud teorizou sobre o conceito de “ação sintomática”, onde o comportamento reflete conflitos internos não resolvidos.
O século XXI tem visto um aumento significativo de doenças psicossomáticas, condições onde fatores psicológicos afetam o corpo físico (como úlceras, hipertensão, enxaquecas). Isso está frequentemente ligado ao estresse crônico, à sobrecarga emocional e à falta de recursos adequados para lidar com essas demandas. Teóricos contemporâneos, como Hans Selye, associam o estresse contínuo com alterações no sistema imunológico e endocrinológico, levando a manifestações físicas de desconfortos emocionais.
Sob a ótica do materialismo histórico, o aumento dessas doenças psicossomáticas pode ser visto como consequência das demandas de trabalho no capitalismo tardio. A intensificação do trabalho, a alienação e a pressão por produtividade geram altos níveis de estresse. David Harvey e outros teóricos marxistas contemporâneos apontam como o modo de produção capitalista fragmenta o sujeito, fazendo com que as pessoas lidem com uma pressão constante para produzir, o que resulta em sobrecarga emocional e doenças corporais.
As doenças psicossomáticas, enquanto fenômeno crescente, refletem a desconexão entre mente e corpo que está profundamente enraizada no estilo de vida moderno. Elas resultam de uma dificuldade em equilibrar emoções, pensamentos e comportamentos diante de pressões externas. O modo de produção capitalista agrava isso ao priorizar o trabalho e a produtividade em detrimento da saúde mental e física.
Psicólogos e psicanalistas contemporâneos buscam novas abordagens para tratar essas condições. Por exemplo, terapias cognitivo-comportamentais (TCC) enfatizam a mudança de padrões de pensamento (cognitivos) e comportamento, enquanto a psicanálise moderna ainda explora a conexão entre emoções reprimidas e manifestações físicas. Além disso, há um crescente reconhecimento da necessidade de uma abordagem holística, tratando a pessoa como um todo integrado, ao invés de separar mente e corpo. E aqui me vejo como terapeuta, como professora, como ser humano tratando outro ser humano, como ensinava Carl Gustav Jung.
A relação entre sentimento, pensamento, comportamento e emoção é complexa e interdependente, com várias teorias psicológicas e psicanalíticas buscando compreendê-la. À medida que as pressões sociais e econômicas do século XXI aumentam, o corpo responde fisicamente às tensões psíquicas, resultando em doenças psicossomáticas. Este fenômeno não é apenas uma questão individual, mas uma reflexão das estruturas sociais que influenciam nossas emoções, pensamentos e comportamentos. Entender essa dinâmica permite intervenções mais eficazes e um tratamento mais profundo, não só das doenças, mas das causas que levam a elas. O velho axioma se apresenta com muita força em nossos dias atuais: os paradigmas entre ser e ter estão dando um cheque mate em nossas estruturas humanas e, se não nos espiritualizarmos, e aqui não entenda religiosidade mas sim movimento interior do ser humano – divino; se não houver esse movimento, a humanidade corre um grande risco de se auto destruir em nome de suas descobertas, de suas posses, de sua ganância.
QUEM DE NÓS?

Professora, historiadora, coach practitioner em PNL, neuropsicopedagoga
clínica e institucional, especialista em gestão pública.