Vivemos uma era de transição paradigmática. A hermenêutica — enquanto arte e ciência da interpretação — nos convida a repensar os sentidos da infância, da tecnologia, das crenças e das práticas culturais sob novas lentes. Diante do impacto avassalador da revolução digital, urge compreender a criança não apenas como um ser em desenvolvimento, mas como um agente simbólico que habita, simultaneamente, os mundos físico e virtual.
Historicamente falando, a humanidade mudava de Eras em Eras, de tempos em tempos históricos, pois bem, Dr. Augusto Jorge Cury afirma em seu trabalho de mais de quarenta anos de clínica psiquiátrica, de produção literária, palestras e cursos que, a humanidade está mudando a cada cinco anos! E eu digo, na minha experiência em quarenta anos de educação e vinte anos em PNL – Programação Neurolinguística que esse tempo cronológico está cada vez menor, ao ponto de em família termos quatro ou cinco modelos ou paradigmas geracionais convivendo ao mesmo tempo, interagindo, se degladiando ou espetacularmente se permitindo viver e aprender com os pequeninos da nova geração pós mundo digital.
É notório que a criança de hoje nasce e cresce em um mundo digital!
Nunca houve uma geração tão conectada quanto a atual. Desde os primeiros meses de vida, crianças já interagem com telas, plataformas digitais e conteúdos multimídia. Este dado não pode ser ignorado. A infância passou a coexistir com algoritmos e inteligências artificiais que, direta ou indiretamente, moldam comportamentos, preferências e formas de se relacionar com o mundo. E haja voz de professores, psicólogos e pais esclarecidos em alertar para os danos das telas dos zero aos doze anos!
E essa hiper conexão, por vezes, esvazia a vivência orgânica da infância — aquela feita de chão de terra, do cheiro da chuva, do toque das mãos e do silêncio interior. O digital não pode substituir o enraizamento afetivo, a escuta atenta dos adultos, a contemplação da natureza e a experiência do tédio criativo.
É moda comer comidas naturais, orgânicas, sem agrotóxicos, pois é, as crianças em contato com a natureza desenvolvem uma aprendizagem leve, solta, feliz e, ao passo que no sedentarismo corporal das telas em demasia, vão perdendo sua infância relacional com outras pessoas de verdade e não simulação de gentes, álbum de figurinhas fictícias, de avatares falsos, sem um algum orgânico, real, cheio de memórias afetivas incríveis e reais!
Criei dois meninos lindos aqui, nas Terras Tucujus, hoje não moram mais no Estado do Amapá, porém, levaram para suas crianças, suas memórias afetivas: soltar pipas, fazer pique – niques na natureza, pescaria cantoria ao som da viola e tantas outras coisas de um modelo orgânico de viver e crescer.
Hermenêutica da infância: decodificando o ser em formação
Sob a ótica hermenêutica, é preciso interpretar a criança não como um objeto de intervenção pedagógica, mas como um sujeito de sentido. Cada gesto, cada pergunta, cada silêncio infantil carrega a linguagem de um mundo em formação, e esse mundo exige um olhar cuidadoso — mais do que dados, teorias e métodos. Exige presença.
A infância não pode ser comprimida entre o conteúdo escolar e os vídeos do YouTube. É preciso resgatar o brincar livre, a convivência comunitária, o convívio com os avós, a experiência do sagrado e a formação ética.
Orgânico e digital: dualidade ou integração?
Não se trata de negar o digital, mas de integrá-lo de maneira crítica e ética. Uma criança que vive de forma orgânica no mundo digital é aquela que sabe usar a tecnologia sem ser usada por ela. Que entende que os “likes” não definem seu valor, que aprende a meditar, a cultivar plantas, a cozinhar com os pais, a olhar nos olhos — e também a programar, a pesquisar, a criar com responsabilidade.
O caminho é o equilíbrio entre as raízes e as redes. Entre o passado que nos sustenta e o futuro que nos desafia. Isso vale para adultos e crianças!
A revolução invisível dos costumes e valores
Por trás das transformações visíveis — como os avanços tecnológicos, a globalização e a fluidez dos papéis sociais —, opera-se uma revolução invisível. Os costumes mudam sutilmente. As famílias se reconfiguram. As religiões se redimensionam. A espiritualidade ressurge como busca de sentido em meio ao caos informacional.
Valores como empatia, cooperação, escuta ativa, autenticidade e cuidado do planeta emergem como respostas urgentes a um modelo de sociedade que já demonstra sinais de esgotamento. O que antes era dogma torna-se convite ao diálogo. O que antes era imposição religiosa, hoje é caminho de autoconhecimento.
Estamos criando o futuro — agora, no presente. E isso se faz principalmente no campo invisível das atitudes cotidianas, da escuta às crianças, da educação afetiva, da reconciliação entre tradição e inovação.
Conclusão: O futuro começa no agora
A verdadeira revolução não virá de uma nova tecnologia, nem de um salvador ideológico, mas da maneira como educamos, acolhemos e interpretamos a criança de hoje.
Gosto de um ditado africano que afirma: “É preciso uma tribo inteira para criar uma criança” E eu complemento dizendo que a tribo precisa ser orgânica, saudável e passar de geração em geração suas memórias religiosas, afetivas, cognitivas e principalmente, o amor que esteve presente desde as origens de tudo e de todos.
Quando olhamos para a infância com olhos hermenêuticos — isto é, atentos ao significado profundo de cada ato — percebemos que o futuro é semeado nas pequenas escolhas do presente: no modo como falamos com nossos filhos, no tempo que dedicamos a eles, na espiritualidade que encarnamos em gestos, não apenas em palavras.
Desculpem os católicos, evangélicos ou espíritas, mas a verdade de Jesus é que o Evangelho de Cristo começa depois do canto final da missa, depois do último amém do culto evangélico ou da prece final do espiritismo cristão.
É no invisível que germina o novo. E, se quisermos um amanhã mais humano, mais justo e mais sagrado, precisamos cuidar agora das sementes que lançamos no coração das crianças.
A Criança, o Mundo Digital e a Revolução Invisível dos Valores: Uma Hermenêutica dos Novos Paradigmas

Professora, historiadora, coach practitioner em PNL, neuropsicopedagoga
clínica e institucional, especialista em gestão pública.